Título: FURLAN ATACA PLANO DA FAZENDA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 21/03/2006, Economia, p. 21

Para ministro, proposta de cortar tarifas de importação é singela

SÃO PAULO. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, atacou ontem a proposta do Ministério da Fazenda de reduzir unilateralmente as tarifas de importação como forma de acelerar o corte dos juros e diminuir a valorização do real frente ao dólar. Furlan classificou a proposta de singela e disse que ¿não se dá nada de graça¿.

¿ É uma visão natural de quem está administrando uma parte da economia. É tão extremada como aqueles que acham que a simples queda da taxa de juros é a solução para tudo no Brasil. Não há uma solução singela. As soluções dependem do trabalho e de um conjunto de fatores ¿ criticou o ministro, antes de participar de evento promovido pelo Instituto Brasil para Convergência Digital.

Para ele, a proposta da Fazenda desconsidera a necessidade de estimular a criação de empregos:

¿ A proposta colocada pela Fazenda tem um sentido que desconsidera a criação de empregos no país e desconsidera a viabilidade econômica de alguns setores que, hoje, podem não ser tão competitivos por força do chamado custo Brasil.

`Não fazem sentido concessões unilaterais tendo nada em troca¿

A divisão dentro do governo já fora manifestada durante reunião, no último dia 10, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que teve a participação de empresários e do segundo escalão dos ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento e das Relações Exteriores. Enquanto o secretário de Política Econômica da Fazenda, Bernard Appy, defendeu a redução, o secretário-executivo da Camex, Mario Mugnaini, afirmou que o momento não era adequado. Ele alega que o Brasil está participando da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), e tenta obter vantagens em troca de uma maior abertura comercial.

O mesmo argumento foi usado ontem pelo ministro Furlan:

¿ Temos colocado concretamente que, no bojo de uma negociação com a OMC, não faz sentido darmos concessões unilaterais tendo nada em troca. Esse é o momento de guardar no bolso as concessões já estudadas e, quando as ofertas do outro lado (dos demais países) estiverem na mesa, avaliar o melhor caminho.

Furlan disse ainda que a escolha de um padrão para a TV digital no país deve ser usada como trunfo para atrair tecnologia e investimentos. Segundo ele, o Brasil estaria próximo de abrigar uma fábrica de componentes eletrônicos.

¿ Isso daria uma densidade muito maior à cadeia produtiva. O Brasil passaria também a ser exportador de componentes ¿ disse.

Sem se manifestar a favor do sistema americano, europeu ou japonês, o ministro disse que o importante é ¿ter propostas¿. Segundo ele, a decisão final será tomada oportunamente pelo presidente Lula.