Título: IMPORTAÇÕES (QUASE) A MIL
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 21/03/2006, Economia, p. 21

Mais 968 empresas passam a comprar do exterior com dólar baixo e reação da economia

Acontínua queda do dólar, combinada com a recuperação da economia brasileira neste início de 2006, foi o estímulo que faltava para muitas empresas brasileiras voltarem a importar. Levantamento da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) mostra que, em janeiro, quase mil empresas a mais ingressaram no mercado importador, em relação ao mesmo mês de 2005. O número de firmas que comprou insumos, máquinas ou bens de consumo do exterior cresceu em 968.

O volume de importações brasileiras só faz crescer desde o início do ano. Depois de aumentar, em quantidade, apenas 5,4% em 2005, as importações deram um salto de 13% em janeiro e de 11% em fevereiro, segundo a Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex). Não há ainda dados disponíveis sobre a quantidade de importação em março. Mas, em dólares, o crescimento das compras do exterior até a terceira semana deste mês foi de 25,3%, frente ao mesmo período de 2005.

Também não é para menos: o dólar fechou ontem a R$2,149. Desde meados de fevereiro, a taxa de câmbio se mantém nos menores patamares em cinco anos.

Empresa triplica a compra de importado

Graças ao dólar favorável, a fábrica de moda íntima Duloren, por exemplo, triplicou suas importações de bordados. Em todo o ano de 2005, foram 8 mil metros quadrados. Em 2006, já foram fechadas encomendas de 24 mil metros quadrados. As compras de rendas, principalmente da França, saíram de 800 quilos em 2005 para dois mil quilos este ano, uma expansão de 150%. Os materiais importados vão representar de 13% a 15% da produção da Duloren este ano, contra só 8% no ano passado.

¿ Voltamos a importar como nos anos de ouro da década de 90. Graças ao câmbio, vamos oferecer produtos sofisticados que cabem no bolso da consumidora brasileira ¿ diz a diretora de Marketing da empresa, Denise Areal.

Ela cita como exemplo o sutiã da Linha Sardenha, com renda importada, que custa R$70 nas lojas. Um similar no varejo europeu, diz Denise, não sai por menos de R$200.

Para os economistas, a retomada das importações é explicada não só pelo dólar fraco, mas também pelo maior vigor da economia brasileira. Ao longo de 2005, quando o dólar caiu 12%, as exportações cresceram mais do que as importações. Mas, em 2006, o ritmo de compras do exterior vem aumentando a cada mês.

¿ As importações não cresceram antes porque a economia estava fraca ¿ afirma Renato da Fonseca, gerente executivo da Unidade de Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Luciana de Sá, chefe da Assessoria Econômica da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), destaca que as empresas levam em conta não só a queda do dólar, mas também a perspectiva de que a taxa de câmbio se manterá neste patamar favorável às importações nos próximos meses. No Estado do Rio, o segmento com maior vigor nas importações é o de máquinas e equipamentos, com alta de 28,4% nos últimos 12 meses.

¿ É um sinal positivo de que as indústrias estão atualizando sua tecnologia e investindo para ampliar a capacidade produtiva ¿ diz Luciana.

O outro lado do avanço das importações é o freio nas exportações, lembra José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB. Em 2005, pela primeira vez desde 1997, caiu o número de empresas exportadoras. Ao todo, 951 firmas deixaram o mercado. Em janeiro deste ano, o número de empresas exportadoras foi 328 menor do que no mesmo mês de 2005. Segundo Castro, as empresas que desistem do mercado externo são em sua maioria pequenas e médias, com exportações inferiores a US$200 mil ao ano.

Renato da Fonseca, da CNI, acrescenta que empresas que estão no mercado externo há mais tempo têm um custo maior para desistir da presença no exterior:

¿ Essas empresas investiram para conquistar clientes e adaptar seus produtos. Elas têm contratos a cumprir. As firmas que saem primeiro são as exportadoras iniciantes. Mas, a medida que o real fica valorizado por mais tempo, o custo de se manter no mercado externo torna-se maior do que o custo de desistir temporariamente das exportações e, no futuro, investir novamente para reconquistar os clientes.

Sebrae: exportadores adiam a expansão

Fonseca acrescenta que, mesmo com o dólar fraco, o volume exportado pelo Brasil continua crescendo porque muitas empresas estão antecipando receitas de exportações que serão entregues no futuro para ganhar, no mercado financeiro, com as altas taxas de juros praticadas no Brasil.

Enquanto algumas empresas desistem do mercado externo, outras adiam planos de expansão para as exportações, diz a gerente de Projetos do Centro Internacional de Negócios do Sebrae, Míriam Ferraz:

¿ Empresas que planejavam ampliar investimento para o mercado internacional estão dando uma freada ¿ conta Míriam.

Na terceira semana de março, as importações cresceram 25,3%, frente ao mesmo período de 2005, graças aos eletroeletrônicos, siderúrgicos, automóveis e bens de capital (máquinas e equipamentos). A média diária importada foi a mais alta registrada até agora em 2006, de US$351 milhões. Mesmo assim, as exportações superaram as importações em US$907 milhões na semana, contribuindo para um superávit mensal de US$2,152 bilhões. No ano, a balança tem saldo positivo de US$7,818 bilhões. A média diária exportada também foi a mais alta do ano, de US$502,2 milhões. O total exportado na terceira semana, de US$2,663 bilhões, foi 19,4% maior do que no mesmo período de 2005.

Em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que o aumento do ritmo das importações está em linha com as expectativas do governo. O ministro ressaltou que o avanço das compras externas está concentrado em bens de capital, bens eletrônicos e matérias-primas.

¿ Isso é positivo para a indústria brasileira, pois mostra investimento na fabricação de produtos finais.

COLABORARAM Eliane Oliveira e Aguinaldo Novo