Título: PROCOM ACIONA UNILEVER E AMBEV POR ANÚNCIOS
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 21/03/2006, Economia, p. 23

Propagandas de TV são consideradas abusivas pelo órgão, que vê discriminação racial e conotação sexual

SÃO PAULO. Dois grandes anunciantes do mercado publicitário brasileiro estão na mira do Procon de São Paulo. O órgão de defesa do consumidor paulista instaurou recentemente processos administrativos contra a Unilever e a AmBev, por causa de campanhas publicitárias de marcas dessas duas empresas que considerou discriminatórias e preconceituosos, ilícitos previstos pelo Código de Defesa do Consumidor passíveis de sanções e multa de até R$3,12 milhões.

A Unilever foi notificada em 23 de fevereiro pela campanha ¿Canibal Vegetariano¿, da maionese Hellmann's, em que um grupo de canibais, todos negros e que supostamente vivem na África, preparam-se para devorar um homem branco. A Unilever já apresentou sua defesa, mas o Procon concluiu, na semana passada, que a peça é ¿discriminatória e abusiva¿.

¿ A campanha tem elementos visuais que induz à discriminação, principalmente entre o público infantil. Além de reforçar essa percepção entre que já tem esse tipo de preconceito ¿ argumenta a diretora de Fiscalização do Procon-SP, Joung Won Kin.

O processo já foi encaminhado para a Assessoria de Controle de Processos,instância em que a Unilever novamente terá direito de defesa antes que se decida efetivamente pela autuação da empresa, que pode ser multada e ter a peça retirada do ar.

Em comunicado divulgado ontem, a Unilever diz que utilizou o personagem fictício do ¿Canibal Vegetariano¿ como licença poética para incentivar novos usos para a sua marca de maionese.

¿O procedimento padrão da Unilever é aprovar, previamente, todas as campanhas junto ao consumidor, cuidado este que foi cumprido na campanha de Hellmann´s. Os resultados dessa avaliação confirmaram que não há ofensa ou tratamento de forma preconceituosa a qualquer etnia da sociedade¿, afirma a empresa, que diz ainda ter sido ¿a primeira empresa a incluir em escala nacional produtos desenvolvidos para valorizar as características afrodescendentes, confirmando seu compromisso com a diversidade, um dos seus valores fundamentais¿.

Sobre o processo e uma eventual multa aplicada pelo Procon-SP, a Unilever informa que só se pronunciará caso o fato venha a ocorrer.

Para Procom, anúncio da Skol tem conotação sexual

Os casos envolvendo as marcas Brahma e Skol da AmBev têm algumas curiosidades. A empresa só foi notificada pelo Procon-SP na última quinta-feira. Acontece que o filme da Brahma, ¿Olé¿, que motivou a ação deixou de ser veiculado em outubro. Nele, amigos estão num estádio assistindo a um jogo de futebol e um deles enfrenta a torcida adversária para comprar cerveja. O anuncio violaria lei estadual (de São Paulo) que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em estadios. Por tratar-se de peça já fora do ar, a AmBev informa que não responderá à notificação do Procon-SP. A empresa deve defender-se apenas do outro caso, no qual o alvo é a campanha ¿Musa¿, da cerveja Skol, cujo filme começou a ser veiculado em 18 de fevereiro e continua no ar.

¿ Jamais uma pessoa pode ser equiparada a um produto, menos ainda de consumo que no caso é uma mulher e tem conotação sexual ¿ diz a diretora do Procon-SP.

A Skol, porém, reiterou ontem em nota que cumpre todas as normas e regulamentações do Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) em suas campanhas. Segundo a empresa, o objetivo do filme ¿Musa¿, criado pela agência F/Nazca, foi democratizar de um jeito bem-humorado este ícone do verão, geralmente distante e inatingível para a maioria das pessoas. ¿A Skol está aberta para ouvir e debater o assunto com o Procon e demais entidades¿, disse a empresa..