Título: RUMO À ÍNDIA
Autor: Nélson Vasconcelos
Fonte: O Globo, 21/03/2006, Economia, p. 25

O empresário do software brasileiro anda sempre tão preocupado em ser parceiro de grandes multinacionais, que acaba deixando passar boas chances ao ignorar eventuais parceiros "menores". É o que diz o André Fonseca, das brasileiras Automatos e Voki. Nos últimos tempos, depois de sacolejar muito em aviões para Boston ou Los Angeles, entre outros, acabou aprendendo o caminho da Índia.

Bem... a Índia não é exatamente ali na esquina. Contando com sorte, são umas 16 horas de vôo saindo daqui do Rio. É um mundo estranho, com surpresas a cada esquina - e com direito até a seqüestros-relâmpagos, como aconteceu com o Fonseca. Estranhíssimo, mas convenhamos, momentos de tensão fazem parte da vida de muitos dos principais executivos de qualquer indústria, em todo o planeta.

O que importa, diz Fonseca, é que a Índia está se mostrando um destino muito mais interessante para o jeitão brasileiro de fazer software. E basicamente por um motivo: a indústria indiana e a nossa se complementam. Não são totalmente concorrentes, diz o executivo da Automatos:

- Eu diria que, em geral, nós aqui somos bons na concepção e pecamos na finalização dos projetos. Lá na Índia é o contrário - garante.

(Penso aqui que essa questão tem a ver com aquela velha característica do jeitinho brasileiro: o improviso nos ajuda a sobreviver até o fim do mês, mas tudo fica muito ali na superfície, e nada é definitivo... Mas peraí: sociologia de botequim, numa hora destas?)

Para resumir a conversa, digamos que Fonseca está abrindo caminhos na Índia e se mostra bastante contente com isso. Seria uma sugestão sua para quem anda perdendo tempo voando pelo mundo, atrás de parcerias grandiosas:

- Temos que ver que o chamado "custo da venda" está proibitivo em vários países - diz ele.

Exemplos: Inglaterra, Alemanha, Austrália, México, Estados Unidos, China... Todo brasileiro que anda tentando investir nesses países tem encontrado uma concorrência feroz. Dá para compreender. Mesmo as viagens organizadas de visitação a tantos países, ataque em massa a esses mercados, freqüentemente tornam-se apenas boas promessas.

A propósito: semana passada mesmo um leitor desta coluna disse que essas missões brasileiras não passam de dinheiro público jogado fora. A bronca é livre:

"Isso tudo é fruto de subsidio. (Esse dinheiro seria) melhor aplicado se custeasse bolsas de estudos em nível de pós e mestrado em tecnologia da informação. Qualquer incubadora de universidade (...) faz muito mais pela indústria brasileira de capital intelectual", diz a mensagem do leitor, que trabalha no mercado de tecnologia há mais de 30 anos.

Quanto a isso, fica aberta a discussão: missões comerciais brasileiras a grandes eventos internacionais dão resultado? Ou elas resultam apenas em promessas? Há quem diga que os visitantes dos stands brasileiros querem apenas vender produtos/serviços para o Brasil, e não comprar. Seria um tiro às avessas - quando não, um trem da alegria....

A gente volta a discutir isso em breve, porque haverá chiadeira.

Mas sim: Fonseca conta que perdeu muito tempo (e dinheiro) tentando abrir uma parceria com um grande banco inglês, entre outras corporações de peso. Descobriu então que seria mais vantajoso fornecer seus serviços para empresas terceirizadas do tal banco. E foi encontrá-las justamente na Índia - não por acaso, um dos mais fortes concorrentes do Brasil na indústria mundial de software.

Claro que milhares de empresários de todo o mundo já estão por lá, mas a presença brasileira na Índia ainda é tímida, de acordo com o executivo.

E não que essa descoberta tenha deixado Fonseca longe da China. No entanto, o mercado chinês já não atrai tanto a Automatos/Voki, que monitora à distância milhares de servidores e PCs em todo o mundo, mapeando as máquinas, localizando e consertando seus problemas.

De qualquer maneira, para quem continua interessado na China, aqui vai outro recado: será nos dias 28 e 29 de março, em São Paulo, o seminário "Realizando negócios na China: Uma perspectiva brasileira". Inscrições e info: (11) 5185-8685 ou pelo www.challengeconsultinggroup.com>. Boa sorte.