Título: ISRAEL INTERROMPE AJUDA PARA GAZA
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Fonte: O Globo, 21/03/2006, O Mundo, p. 26

Posto de fronteira fica aberto por apenas 40 minutos. UE tenta negociar com Hamas

CIDADE DE GAZA. Uma medida que no princípio era considerada uma demonstração de boa vontade do governo de Israel para com a população palestina acabou sendo motivo de mais uma crise nas relações entre os dois lados. O maior posto de passagem de produtos para a Faixa de Gaza, Karni, foi reaberto para que material de ajuda humanitária entrasse na região, mas 40 minutos depois disso Israel voltou a fechá-lo, provocando a revolta dos palestinos.

No pouco tempo em que o posto ficou aberto só seis caminhões, contendo farinha e açúcar, entraram na Faixa de Gaza. O carregamento foi considerado irrisório. Agências de ajuda humanitária têm divulgado alertas de que o fechamento das passagens e o corte do envio de dinheiro de impostos palestinos recolhidos por Israel está criando uma crise de graves proporções para a população de 1,4 milhão de pessoas de Gaza.

Segundo os militares israelenses, o posto de Karni foi fechado devido a um alerta de segurança. Ele seria reaberto amanhã.

- Mas após o que aconteceu hoje (ontem), não posso mais crer nas promessas israelenses - disse o chefe palestino da segurança dos postos, Abu Safiya.

A imprensa de Israel afirmou que a decisão de fechar Karni criou tensão no governo. O premier em exercício, Ehud Olmert, queria que o posto permanecesse aberto para evitar um crise humanitária em Gaza. Ele também não teria sido convencido da necessidade de fechar todos os postos, ação defendida pelo ministro da Defesa, Shaul Mofaz. A abertura de Karni ontem teria sido uma ordem de Olmert.

Hamas tem chance de furar isolamento internacional

Enquanto o Hamas faz os últimos acertos para apresentar ao Parlamento seu Gabinete para a formação do governo da Autoridade Palestina, abriu-se ontem uma brecha para que o grupo radical consiga furar o isolamento internacional. A União Européia disse que poderia manter contato com a ANP comandada pelo Hamas.

- Estamos deixando as portas abertas para uma mudança positiva. Mas queremos deixar claro que não podemos ser brandos em relação a princípios - disse a comissária para Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, frisando que tudo dependeria de o Hamas aceitar a existência de Israel e renunciar à violência.