Título: Bush admite que situação no Iraque é tensa
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Fonte: O Globo, 21/03/2006, O Mundo, p. 27

No aniversário do conflito, presidente enfrenta críticas e muda discurso, mas mensagem continua sendo otimista

CLEVELAND, Ohio. O presidente George W. Bush aproveitou ontem o aniversário de três anos da guerra no Iraque para enviar aos americanos uma nova mensagem de otimismo em relação à ocupação, com a repetida promessa de não abandonar os iraquianos. Mas, numa postura diferente da que exibira em pronunciamentos anteriores - inclusive por ocasião dos outros dois aniversários - desta vez Bush reconheceu enfaticamente as dificuldades no país ocupado.

- A situação continua tensa. Diante de contínuos relatos sobre assassinatos e represálias, compreendo que alguns americanos tenham sua confiança abalada. Outros vêem a violência todas as noites nas telas de TV e imaginam como eu posso continuar tão otimista em relação à perspectiva de sucesso no Iraque. Eles imaginam o que eu vejo e eles não - disse o presidente num discurso em Cleveland, Ohio.

Em seguida, Bush citou como sucesso da ocupação a cidade de Tal Afar, no norte do Iraque, onde, segundo ele, terroristas da al-Qaeda que intimidavam os moradores foram afastados e as pessoas hoje vivem "livres e seguras".

Manifestantes tentam entregar caixão a Rumsfeld

Em frente ao City Club, onde Bush discursava, cerca de cem pessoas protestaram contra a guerra. Em Washington, um grupo de manifestantes encenou um funeral e tentou entregar um caixão falso ao secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, mas foi barrado pela polícia.

Também na capital, o proeminente senador democrata Joe Biden criticou duramente Bush, aconselhando-o a fazer mais pressão sobre as autoridades iraquianas para que formem um novo governo e a começar a se preparar para um guerra civil, se o esforço fracassar.

- Nós nos livramos de um ditador brutal. Isso é bom. Mas pode ser que estejamos prestes a trocá-lo pelo caos e por um novo paraíso de terror no Oriente Médio. É uma troca ruim para a segurança dos EUA - disse o senador.

No Iraque, um ritual religioso xiita que atraiu centenas de milhares de peregrinos à cidade de Karbala marcou o aniversário, mas o fantasma da violência e a incerteza quanto ao futuro continuaram assombrando o país: pelo menos 31 pessoas morreram em diversos episódios e - devido a feriados e viagens - o Parlamento suspendeu até a semana que vem as difíceis negociações para formação de um novo governo.

Médicos entram em greve e hospital em Bagdá é fechado

Quase dez mil soldados e policiais isolaram Karbala para proteger os peregrinos, muitos dos quais participaram de um ritual de autoflagelamento, proibido na época de Saddam Hussein. Em várias partes do país, 19 pessoas foram mortas em explosões de bombas e ataques a tiros. Na capital, 12 corpos foram encontrados, o que foi associado à violência sectária.

Num exemplo das dificuldades enfrentadas por iraquianos, médicos e enfermeiros entraram em greve no Hospital Yarmouk - um dos mais movimentados de Bagdá - exigindo proteção da polícia, depois de um funcionário ser espancado por membros das forças de segurança. O hospital já atendeu a milhares de vítimas da violência.

Já a Jordânia fechou domingo a fronteira com o Iraque para impedir a entrada de palestinos que fogem da violência sectária. A medida foi tomada depois de um ônibus lotado de palestinos chegar à Jordânia - estima-se que 34 mil vivam no Iraque.

A organização Repórteres sem Fronteiras disse ontem que em três anos morreram mais jornalistas no Iraque (86) do que em qualquer outro conflito desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

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