Título: POPULARIDADE DE BLAIR CHEGA A NÍVEL MAIS BAIXO
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 21/03/2006, O Mundo, p. 28

'Guardian' diz que é hora de o premier britânico renunciar

LONDRES. As denúncias de trocas de favores com empresários fizeram a popularidade do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, atingir seu nível mais baixo não apenas de seus nove anos no poder, mas de seus 12 como líder do Partido Trabalhista - superando até os momentos de maior descontentamento popular, como a participação na invasão do Iraque. De acordo com uma pesquisa do instituto YouGov, publicada no fim de semana, apenas 36% dos eleitores aprovam seu governo e 53% questionaram a honestidade do premier no escândalo do oferecimento de vagas na Câmara dos Lordes em troca de empréstimos secretos para o partido.

O jornal "Guardian", que vinha sistematicamente apoiando o premier, publicou ontem um duro editorial afirmando que é hora de Blair renunciar, devido aos danos que as denúncias provocaram em sua reputação, e lembrando que Blair chegou ao poder prometendo limpar a política britânica. Numa análise também contundente da situação, a BBC online manifestou dúvidas sobre a capacidade do premier de evitar que seu governo seja tachado de desonesto. Em editorial semana passada, a revista "The Economist" também sugeriu que é hora de o premier deixar o poder.

Intenções de voto favoráveis ao Partido Conservador

Blair está muito perto de provar do próprio remédio: um dos argumentos mais usados pelos trabalhistas na campanha para as eleições de 1997 foi a exploração de denúncias de trocas de favores envolvendo o então primeiro-ministro, John Major, e que eram bastante similares às atuais. Com a pesquisa do YouGov também revelando intenções de voto favoráveis ao Partido Conservador (38% a 35%), é de se esperar que o líder da principal legenda de oposição, David Cameron, faça mais nos próximos dias do que prometer arrumar a casa no pleito previsto para 2009 ou 2010.

Outro grande problema para o premier é o fato de ele há algum tempo enfrentar uma rebelião nas fileiras trabalhistas. Na semana passada, seu projeto de reforma do ensino básico só foi aprovado graças aos votos dos conservadores. Blair já anunciou que não vai disputar as eleições. Seu sucessor natural, o ministro das Finanças, Gordon Brown, já faz uma campanha velada e setores mais descontentes pressionam por uma saída do premier ainda este ano para que os trabalhistas juntem os cacos para conquistar um quarto mandato. O conflito se agravou com a denúncia do tesoureiro Jack Dromey de que Blair negociou empréstimos da ordem de US$25 milhões à revelia dos encarregados das finanças trabalhistas. Quatro empresários beneficiados foram nomeados para a Câmara dos Lordes.