Título: As experiências brasileiras no espaço
Autor: Roberta Jansen
Fonte: O Globo, 21/03/2006, Ciência e Vida, p. 30

Astronauta Marcos Pontes levará oito análises para a estação espacial

Embora o principal objetivo da viagem de Marcos César Pontes seja a divulgação do programa espacial brasileiro, o astronauta realizará durante sua estada de uma semana na Estação Espacial Internacional oito experiências científicas.

O ambiente de microgravidade (valores de gravidade próximos de zero) é considerado privilegiado para alguns tipos de experiências porque materiais e compostos se comportam de forma diversa na ausência de gravidade. Até hoje, para fazer análises nesse tipo de ambiente, o país contava apenas com os chamados foguetes de sondagem - pequenas cápsulas que levam experiências ao espaço por alguns minutos.

- Com os foguetes, podemos testar por 7 a 8 minutos. No espaço, teremos oito dias - sustenta o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Sérgio Gaudenzi. - Além disso, é importante aprendermos a fazer porque quem sabe não vai nos ensinar: se não aprendermos, ficaremos sempre dependentes.

Desenvolver tecnologia é a prioridade

Desde 1998, a AEB conta com um Programa de Microgravidade cujo objetivo é viabilizar essa tecnologia e os estudos no espaço.

- A razão deste vôo (de Pontes) é existir o Programa de Microgravidade - acredita Raimundo Mussi, gerente da Missão Centenário. - O programa já previa não só os vôos suborbitais como também a estação espacial. É que para algumas experiências oito minutos são suficientes, mas não para todas.

As experiências a serem realizadas por Pontes no espaço envolvem as áreas de engenharia, microeletrônica, saúde, biotecnologia, entre outras, e foram desenvolvidos por universidades e institutos de pesquisa do país.

- As mesmas experiências serão realizadas concomitantemente na Terra para podermos comparar os resultados - explica Mussi. - Mas o maior valor é dominarmos a tecnologia de realização de experimentos porque isso é algo que temos que adquirir com a prática, não se vende nem se dá.

Originalmente, Pontes levaria ao espaço nove experiências. Mas uma delas, desenvolvida pela Universidade Federal de Pernambuco, não foi aprovada pelos russos. É que o teste demandava a presença de um forno, mas, de acordo com as regras de segurança da estação, a temperatura externa máxima permitida é de 60 graus Celsius e os cientistas pernambucanos não conseguiram a tempo o isolamento térmico necessário.

As regras de segurança são bastante rígidas, segundo Mussi. Botões de plástico, por exemplo, são terminantemente proibidos.

- Qualquer coisa que produza gases se entrar em combustão é proibida - explica.

Pontes foi treinado para fazer os testes

As experiências brasileiras foram avaliadas por um grupo de cientistas russos que esteve no Brasil no início de fevereiro. Depois de apontarem algumas modificações necessárias para atender às regras de segurança no espaço, oito experiências foram aprovadas.

Pontes recebeu instruções sobre as experiências na Rússia, durante seu treinamento na Cidade das Estrelas. Em geral, no entanto, as experiências não demandam conhecimento muito específico.

Os teste na estação

CINÉTICA DAS ENZIMAS: A experiência da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), de São Paulo, analisará as reações de enzimas que quebram moléculas de gordura em ambiente de microgravidade. Potenciais benefícios para as indústrias alimentícia e farmacêutica.

DANOS E REPAROS DO DNA: A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) querem observar o efeito da radiação sobre as atividades que ocorrem no interior das células em baixa gravidade. O estudo é importante para as viagens tripuladas ao espaço.

EVAPORADORES CAPILARES: A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) quer criar tecnologia nacional para controlar a temperatura interna de satélites.

MINITUBOS DE CALOR: Outra experiência da UFSC também tem por objetivo final desenvolver controle térmico de satélites.

GERMINAÇÃO DE SEMENTES: A Embrapa está enviando sementes para analisar o efeito da microgravidade no processo germinativo.

NUVENS DE INTERAÇÃO PROTEICA: A substância responsável pelo brilho dos vaga-lumes é a matéria-prima da experiência do Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA). O objetivo final é aprimorar técnicas de desenvolvimento de novas drogas.

SEMENTES DE FEIJÃO: Observar a germinação dessas sementes é o objetivo da experiência da Secretaria de Educação de São José dos Campos (SEJC).

CROMATOGRAFIA DA CLOROFILA: A SEJC envia também extratos de folhas de couve para estudar a clorofila na microgravidade