Título: REMESSAS CAEM E CONTAS EXTERNAS TÊM RECORDE
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 22/03/2006, Economia, p. 25

Superávit ficou em US$725 milhões em fevereiro. Envio de lucros ao exterior foi de quase metade do volume de janeiro

BRASÍLIA Mais uma vez impulsionado pelo bom desempenho da balança comercial, aliado à menor remessa de lucros e dividendos para fora do país, o saldo de transações correntes brasileiro fechou fevereiro positivo em US$725 milhões - o melhor desempenho para meses de fevereiro desde o início da série histórica, em 1947. O número inverteu o déficit de US$452 milhões de janeiro e surpreendeu o Banco Central (BC), que esperava ficar no zero a zero. Por causa disso, o BC revisou para cima boa parte dos principais indicadores das contas externas para 2006. O próprio superávit das contas correntes passou de US$6,1 bilhões para US$8,6 bilhões.

No mês passado, a remessa de lucros e dividendos feitas pelas empresas para fora do país ficou em US$829 milhões, quase a metade do US$1,540 bilhão de janeiro e do US$1,348 bilhão de fevereiro de 2005. Até ontem, estava em US$508 milhões em março. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, isso demonstra "certa acomodação".

- Pode ser temporário - afirmou ele, acrescentando que o BC revisou um pouco para cima o cálculo de remessas para 2006, de US$12 bilhões para US$13 bilhões.

Aplicação em títulos tem forte alta com isenção de IR

As transações correntes representam as operações do país com o exterior, como exportação, importação e pagamento de juros de dívidas. Pelo lado comercial, elas foram influenciadas pelo bom saldo positivo em fevereiro, de US$2,822 bilhões. Segundo Lopes, as projeções para as exportações no ano foram de US$124,5 bilhões para US$128 bilhões. Para as importações, os cálculos permaneceram em US$89 bilhões, o que resultaria em saldo de US$39 bilhões, US$3,5 bilhões a mais que a estimativa anterior.

Os investimentos estrangeiros diretos ficaram em US$859 milhões em fevereiro, somando US$2,362 bilhões no ano. Em março, até o dia 17, eles estavam em US$850 milhões, com expectativa do BC de fechar em US$1,2 bilhão. No movimento oposto, os investimentos de empresas brasileiras no exterior tiveram saldo líquido de US$1,778 bilhão no mês passado, quase US$600 milhões a mais que no mês anterior e o maior nos últimos dez anos. Além do dólar fraco frente ao real, Lopes disse que há maior interesse das companhias nacionais em buscar novos mercados.

Pelo lado financeiro, as transações correntes já sentem o impacto positivo da isenção do Imposto de Renda concedida no mês passado aos investidores estrangeiros no país. Só em aplicações com títulos de médio e longo prazos (acima de um ano), foram US$1,176 bilhão em fevereiro, contra US$95 milhões de um ano antes.