Título: RETIRADA DO IRAQUE, SÓ DEPOIS DO GOVERNO BUSH
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 22/03/2006, O Mundo, p. 31

Presidente frustra americanos ao afirmar que a volta dos soldados será tarefa de 'futuros presidentes' dos EUA

WASHINGTON. O presidente George W. Bush acabou com as esperanças da maioria dos americanos que, segundo pesquisas, gostaria que ele retirasse logo as tropas do Iraque. Depois de afirmar semana passada que isso poderia acontecer em 2007, Bush sugeriu ontem que na verdade as tropas deverão ficar lá muito mais tempo.

Perguntado em sua segunda entrevista coletiva este ano se chegará o dia em que não haverá mais forças americanas no Iraque, o presidente finalmente admitiu que a decisão de retirada não caberá a ele. Ou seja: não acontecerá ao longo dos dois anos e nove meses de mandato que lhe restam. Bush disse que a tarefa acabará ficando com um de seus sucessores (não necessariamente o primeiro):

- A retirada é, obviamente, um objetivo. Mas isso será decidido por futuros presidentes (dos EUA) e futuros governos do Iraque - afirmou.

Bush admite que resistência é maior que o esperado

Ao defender uma vez mais a permanência de Donald Rumsfeld no cargo de secretário de Defesa - "Não acho que ele deva renunciar" - Bush reconheceu implicitamente que seu fiel colaborador errou no planejamento da ocupação do Iraque:

- Todo plano de guerra parece bom no papel, até que você enfrenta o inimigo - disse, admitindo que a resistência tem sido mais firme que o esperado.

Ainda assim, o presidente mais uma vez tentou convencer o público de que tomou a decisão certa ao iniciar a guerra:

- Se eu não acreditasse que poderíamos ter êxito não estaria lá, não teria posto aqueles garotos lá - afirmou.

Pouco mais de 2.300 americanos foram mortos no Iraque em três anos. Ao demonstrar que está ciente de que muitos americanos estão contra a guerra, e ao reconhecer que parlamentares republicanos estão preocupados com os efeitos disso nos resultados das eleições parlamentares de novembro, Bush mostrou-se compreensivo, mas apenas registrou o fato, sem indicar uma saída para os aflitos:

- Ninguém gosta de guerra. Ela cria uma sensação de incerteza no país. Guerra cria trauma. Há um certo desconforto à medida que se caminha num ano eleitoral - disse.

Mais uma vez Bush previu "combates mais duros de agora em diante", embora insistindo que os EUA estão tendo progressos porque teriam "uma estratégia para a vitória".

Embora 70% dos republicanos e quatro de cada cinco americanos acreditem que o Iraque está entrando numa guerra civil (segundo pesquisa), ele disse:

- Todos reconhecemos que há violência, que existe uma violência sectária. Mas a forma que vejo a situação é: os iraquianos consideraram e decidiram não entrar numa guerra civil.

Confrontado com afirmações de que decidira atacar o Iraque desde os primeiros momentos de seu governo, Bush afirmou:

- Eu não queria a guerra.

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