Título: Segundo turno no primeiro
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 23/03/2006, O País, p. 2

Com a decisão de ontem do STF, de fazer valer este ano a regra da verticalização, algumas candidaturas presidenciais devem desaparecer, abrindo caminho para o embate direto entre o presidente Lula e o governador tucano Geraldo Alckmin, cada qual jogando com todas as forças e recursos para ganhar no primeiro turno. O que se segue então é a busca de aliados para a montagem dos melhores palanques nos estados.

Na conversa que terá hoje no Rio com o prefeito Cesar Maia, o candidato do PSDB tratará não apenas da composição da aliança nacional com o PFL. Tentará convencer o prefeito a deixar o cargo para disputar o governo do estado, onde não pode ficar sem um bom palanque. E até agora, nem o PFL nem o PSDB têm candidato competitivo que possa oferecê-lo.

Pesquisa de dezembro dava a Cesar 32% de preferência contra 23% do candidato do PMDB, senador Sergio Cabral. A resistência de Cesar realimenta, na bancada federal do PFL, o movimento para que ele então concorde com a candidatura de seu filho, o líder Rodrigo Maia. Cesar alega que por nada deixará de ser o prefeito da cidade durante os Jogos Panamericanos de 2007. Sabe-se também que não gostaria de deixar a prefeitura para o tucano Otávio Leite. Nem concorda com a candidatura do filho, que a seu ver ainda é muito jovem, devendo agora consolidar a experiência parlamentar em que está sendo bem sucedido. Continua defendendo a candidatura de seu secretário de Obras Eider Dantas, embora, segundo deputados pefelistas, Rodrigo tenha apresentado 16 pontos percentuais de vantagem sobre ele, numa pesquisa que, não tendo sido registrada, não poderá ser divulgada.

Os tucanos do Rio, além de não terem um bom candidato, também só estariam dispostos a apoiar a candidatura de Cesar, não qualquer outra do PFL. Este é um dos primeiros nós regionais que Alckmin terá de desatar.

O caso de São Paulo também terá desdobramentos hoje. A bancada federal paulista do PSDB, reunida por seu coordenador, deputado Julio Semeghine, deve aprovar moção de apoio à candidatura de Serra a governador. O que se busca em São Paulo agora é uma tríplice aliança envolvendo também o PMDB, a quem seria oferecida a vaga de candidato a senador para Orestes Quércia (que já teve uma conversa com Fernando Henrique, aparando arestas antigas). O PFL ficaria com a prefeitura, os nove meses de governo estadual e talvez a vaga de vice, pois ela também poderia ser oferecida ao PMDB. Se tal aliança vingar, o PT ficará num isolamento desolador em São Paulo. Mas para isso, o PMDB não pode ter candidato a presidente.

Em Minas, a candidatura de Aécio Neves à reeleição, apoiado por sua vasta coligação, dará palanque fortíssimo a Alckmin. No chamado "triângulo das Bermudas", o caso do Rio é seu caso mais complicado.

Com a decisão sobre a verticalização, já se acredita no meio político que apenas a senadora Heloisa Helena saia candidata pelo PSOL. Embora tenha vencido a consulta interna do PMDB, a candidatura de Garotinho tem agora grandes possibilidades de ser descartada. Ontem o senador Cristovam Buarque, do PDT, propôs a Roberto Freire, do PPS, a retirada de suas candidaturas para discutirem um programa comum. É um passo para a retirada de ambos.

Com Lula e Alckmin jogando tudo para ganhar no primeiro turno, a campanha tende a se tornar ainda mais violenta do que já era esperado.