Título: Palocci se recolhe e evita seu gabinete na Fazenda
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 23/03/2006, O País, p. 5

Ministro não tem participado de cerimônias públicas e agora tem despachado somente no Palácio do Planalto

BRASÍLIA. Acuado pelas afirmações do caseiro Francenildo Santos Costa de que mantinha relação com ex-assessores de Ribeirão Preto (SP), o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, trocou nos últimos nove dias seu gabinete no Ministério pelo gabinete que tem no Palácio do Planalto. Desde o dia 14, Palocci não participa de eventos públicos. Para evitar a imprensa, tem saído cedo de casa, chegando ao Planalto diariamente por volta das 9h. Mas essa tática nem sempre tem dado certo: o ministro já foi flagrado dentro do carro, com expressão abatida e sem gravata.

Palocci sempre despachou também no terceiro andar do Planalto, ao lado do gabinete do presidente Lula. Ele costumava passar uma parte do dia despachando na Presidência, mas agora fica o dia inteiro fora de seu gabinete na Fazenda, onde tem que entrar pela porta principal.

Ontem, ele participou de reuniões com Lula e com ministros sobre a votação do Orçamento deste ano 2006, que está emperrada no Congresso.

Mesmo no Planalto, Palocci não participa de evento

Na saída da reunião, o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), disse que Palocci estava bem e que não se comentou o caso de Nildo, como é conhecido o caseiro. O deputado brincou que Palocci estava alinhado e penteado, contrastando com a fotografia do dia anterior, na qual aparecia abatido. Mas Palocci evitou cerimônia pública, apesar de estar no Planalto de manhã, quando Lula assinou decreto sobre política indigenista.

- O ministro está bem - limitou-se a dizer Albuquerque.

Palocci está indo apenas ao Planalto desde o último dia 14, quando o caseiro deu entrevista ao "Estado de S. Paulo" afirmando que ele freqüentou a casa alugada em 2003 por seus ex-assessores. No mesmo dia 14, Palocci apareceu pela última vez, numa teleconferência para a Tendências Consultoria. Na ocasião, disse que ficaria no cargo até o fim do governo.

De lá prá cá, a crise só piorou. Nildo começou a depor na CPI dos Bingos, mas, por ação do PT e do governo, teve que parar de falar por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). E a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro bate às portas do Ministério da Fazenda.

Palocci tem compromisso público amanhã, em São Paulo, promovido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, mas sua assessoria ainda não confirmou sua presença.

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Lula cobra pressa nas investigações

Governo tenta evitar desgaste de Palocci no caso da violação do sigilo

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto nega ter dado ordem para a quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa e cobrou pressa nas investigações sobre o caso, apesar de a Caixa Econômica Federal (CEF) ter adotado estratégia oposta, pedindo 15 dias para investigar. Ontem, em diversas reuniões sobre a crise envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o presidente Lula reiterou ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que quer rapidez nas apurações.

De manhã, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que seria melhor que a Polícia Federal concluísse logo as investigações. Jaques Wagner disse ainda que não partiu do Palácio do Planalto orientação para a quebra do sigilo e defendeu a permanência do ministro Palocci.

- Os culpados serão punidos. O presidente não vai conviver com quebra da regra democrática. Essa é a orientação do presidente - disse Wagner, acrescentando:

- Não domino a estrutura da Caixa, mas se a PF puder apressar (as investigações) até acho bom. Com um resultado consistente, a ilação pára. Do Palácio do Planalto não saiu orientação para que se quebrasse a regra do Estado democrático. O presidente Lula sustenta a posição do ministro Palocci. A menos que no nível das investigações se revele alguma coisa que seja impeditiva, o ministro fica no cargo.

Dentro do governo, o discurso continua sendo o de que é preciso manter a defesa de Palocci, sob o argumento de que ele não tem envolvimento com a quebra do sigilo e de que o ato foi praticado por alguém de forma "precipitada" e até "amadora". Perguntado sobre o que seria impeditivo para Palocci permanecer no caso, Jaques Wagner respondeu:

- Só a investigação pode dizer. Se alguma coisa imputar a ele algum tipo de culpa, evidentemente aí a decisão vai para a mão do presidente Lula. Com isso que está revelado até agora, vamos sustentá-lo.

No governo, já há quem defenda saída do ministro

O ministro participou de manhã de seminário do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Cdes), na qual sua assessoria divulgou a presença do presidente da CEF, Jorge Mattoso, que não ocorreu.

Como já ocorre há mais de uma semana, outros ministros, como Luiz Fernando Furlan, saíram em defesa de Palocci. Apesar das manifestações públicas, há defensores de que Palocci deixe o governo no dia 31 de março.

Após a reunião da coordenação de governo, Lula teve conversa reservada com alguns ministros, em especial com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.