Título: CHANCE À PAZ
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Fonte: O Globo, 23/03/2006, Opinião, p. 6

O principal movimento político clandestino em atividade na Europa, o ETA, que há décadas lutava com as armas do terror pela criação do País Basco nas províncias de língua basca da Espanha e da França, anunciou que amanhã suspenderá em definitivo sua inglória campanha de violência. Sem esclarecer se tem a intenção de render-se ou desarmar-se num futuro próximo - ou tirar a máscara do rosto - pediu à Espanha, à Europa e ao resto do mundo que acreditem na sinceridade de sua nova opção pela via democrática.

As explicações mais óbvias para o cessar-fogo permanente decretado pelo ETA seriam a obsolescência dos seus métodos, e talvez da própria luta separatista, e a crescente impopularidade do terror como estratégia política - especialmente na Espanha, que nos últimos anos saiu de uma posição de relativo atraso na União Européia e passou para a linha de frente dos países bem-sucedidos; e mais especialmente ainda depois dos ataques de março de 2004 em Madri, atribuídos a grupos islâmicos, que provocaram veemente repulsa em toda a Espanha.

Assim como o Exército Republicano Irlandês na Irlanda do Norte, o Euskadi Ta Askatasuna, velho e cansado de guerra depois de matar mais de 800 pessoas desde a década de 1960, sem que isso se refletisse em avanço da sua causa, e de um período de implacável repressão pelas polícias da Espanha e da França, que limitou sua capacidade militar - mais de 400 prisões em três anos - finalmente reconheceu a inutilidade de insistir numa campanha de derramamento de sangue na Europa unificada e pluralista.

O presidente do governo, José Luís Rodríguez Zapatero, tem a oportunidade única de entrar para a História como o governante espanhol que pacificou o País Basco. Sua reação inicial foi de compreensível cautela. Mas cabe-lhe agora oferecer aos ex-guerrilheiros - ou ex-terroristas - depois de certificar-se da seriedade de suas intenções, a contrapartida do diálogo nos limites do possível. Seria talvez um bom começo legalizar o Batasuna, a ala política do ETA, na clandestinidade há quatro anos, a fim de trazer as negociações políticas para a luz do dia. A oportunidade de paz duradoura não pode ser desperdiçada.

Modernização da Espanha e repulsa ao terror vencem o ETA