Título: TRANSPARÊNCIA: GENERAL RECEBEU SÓ PALMADINHA
Autor: Ciça Guedes e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 23/03/2006, O País, p. 10

Diretor de ONG critica decisão da Comissão de Ética Pública de não punir a carteirada

RIO e BRASÍLIA. Para Claudio Weber Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, a conclusão da Comissão de Ética Pública da Presidência no episódio da carteirada do comandante do Exército, general Francisco de Albuquerque, que recomendou às autoridades que "deixem claro estar agindo como cidadãos", equivale a apenas "uma palmadinha". Por unanimidade, a Comissão concluiu que o general recebeu tratamento privilegiado para embarcar no vôo lotado da TAM de Campinas para Brasília, na Quarta-feira de Cinzas, mas não recomendou qualquer punição, sob o argumento de que não tinha informações comprovando que o general se valeu do cargo para ter esse tratamento. O relatório foi divulgado anteontem.

O texto da Comissão de Ética afirma que o "general Albuquerque, em vista de overbooking ocorrido em viagem particular, buscou resguardar seus direitos de passageiro com reserva confirmada, recorrendo ao órgão público competente, no caso o DAC", o que, de acordo com Abramo, escamoteia a verdade.

- O texto não assinala nem leva em consideração que o avião em que o general acabou viajando já taxiava rumo à pista e teve de retornar. Isso provocou atraso do vôo, prejudicando todos os passageiros. Também ignorou que o general chegou ao guichê da companhia 15 minutos antes da partida do avião, quando, de acordo com as regras do DAC, a antecedência exigida para esse tipo de vôo é de uma hora, transcorrida a qual a reserva não é garantida. As companhias toleram até 30 minutos, mas não foi o caso. E o relatório sequer considerou que não foi só o general quem se beneficiou da carteirada, mas também sua mulher - disse o diretor da ONG, que combate a corrupção.

Para presidente da OAB,é uma "censura pública"

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, disse ontem que a decisão da Comissão de Ética Pública representa uma censura pública ao comandante do Exército.

- O general sofreu uma censura pública, emitida pela Comissão de Ética, relativa ao momento em que recebeu o benefício indevido - disse Busato.

O relatório da Comissão faz a recomendação para "agir como cidadão" ao "comandante do Exército, aos ministros de Estado e demais altas autoridades do Poder Executivo Federal".