Título: IBGE: tempo de permanência na escola é curto
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 23/03/2006, O País, p. 13

Estudo mostra também que trabalho e afazeres domésticos são principais motivos de abandono pelos jovens

As crianças brasileiras ficam pouco tempo nas escolas. Pesquisa divulgada ontem pelo IBGE revelou que 60% dos alunos matriculados no ensino fundamental em 2004 não permaneciam mais de quatro horas na escola, tempo considerado insuficiente por especialistas em educação.

O tempo de permanência é um dos resultados da publicação "Aspectos complementares de educação 2004", um suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) que foi divulgada ontem pelo IBGE. No pré-escolar, só 29,7% das crianças permaneciam mais de quatro horas, enquanto o percentual no ensino médio era de 53,7% e nas creches, de 53,1%.

- O tempo de permanência, um dos dramas do ensino brasileiro, é mostrado pela primeira vez pelo IBGE. E os resultados são preocupantes. Os percentuais são baixos, se levarmos em conta a média de seis horas de outros países. O sistema de dois turnos é muito ruim - lamentou Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Na rede pública - que abrigava, em 2004, 84% do grupo de zero a 17 anos - os indicadores são mais acentuados. No ensino fundamental, por exemplo, apenas 38,5% permaneciam mais de quatro horas na escola, contra 56,3% na rede privada. A diferença aumenta no ensino médio: 49% no ensino público contra 71,9% no privado.

- O bem-estar social de um país é medido pelo tempo de escolaridade. Quanto maior o tempo de permanência na escola, mais desenvolvido o país se torna. Há estudos do Banco Mundial mostrando que nos países pobres as crianças ficam menos tempo na escola. Em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, a média dos que ficam menos tempo na escola é de seis anos - disse o ex-presidente do Conselho Nacional de Educação, Éfrem Ribeiro.

A pesquisa também apontou os motivos que levam a criança e o adolescente a se afastarem das escolas. No grupo etário de 15 a 17 anos, a proporção de pessoas que não freqüentavam escola para ajudar nos afazeres domésticos ou trabalhar atingiu 20,1% (o percentual mais alto é o do Rio Grande do Sul, com 26,7%), enquanto no de 7 a 14 anos baixou para 5,1%.

No caso dos jovens de 15 a 17 anos, 5,3% apontaram também a inexistências de oferta de escolas próximas.

O presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, contudo, a distância não é fator impeditivo para a freqüência escolar dos jovens.

- Se não é isso, a inserção no mercado de trabalho podem, de fato, estar contribuindo para este afastamento. Em 2001, suplemento sobre trabalho, já tínhamos identificado a entrada de pessoas de idade prematura.