Título: MANTEGA CULPA BC POR PIB FRACO
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 23/03/2006, Economia, p. 27

Para presidente do BNDES, queda da Selic poderia se acelerar

BRASÍLIA. O presidente do BNDES, Guido Mantega, disse ontem que a política monetária do Banco Central (BC) no ano passado impediu que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas pelo país) brasileiro crescesse 4%. A economia nacional cresceu apenas 2,3% em 2005, um dos mais baixos desempenhos entre os emergentes.

- Se em todo o ano passado a taxa Selic fosse dois pontos percentuais menor, teríamos 4% de crescimento e reduziríamos a relação dívida/PIB a 49%, com a inflação sob controle - criticou Mantega no seminário "Agenda Nacional de Desenvolvimento em Debate", promovido pelo governo federal. A relação dívida/PIB fechou 2005 em 51,6%.

Para Mantega, houve excesso de zelo na política econômica no ano passado.

- Agora a taxa está caindo, estamos na direção correta, mas o ritmo de queda poderia ser mais acelerado. Estou com os três diretores do Copom que votaram pela queda de um ponto da Selic na última reunião - disse Mantega, numa referência à decisão de seis membros do Comitê de Política Monetária de reduzir os juros básicos em 0,75 ponto.

Mantega afirmou ainda que espera redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) já na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), prevista para o dia 30. Hoje a taxa, que é referência no financiamento aos investimentos, está em 9% ao ano, mas ele vê espaço para que chegue a 7%.

Sem deixar de citar os juros, os debatedores apontaram outros entraves ao crescimento. Jan Kregel, do Departamento de Assuntos Econômicos da ONU, disse que o Brasil precisa ajustar o câmbio e diminuir a dívida atrelada aos juros. Para o deputado e ex-ministro Delfim Netto (PP-SP), o câmbio é responsável pelo marasmo econômico brasileiro desde 1985. Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge, criticou a política de comércio exterior:

- O Brasil não pode se abrir para produtos industriais em troca de acesso aos mercados agrícolas de países desenvolvidos. Todos os países que cresceram nas últimas décadas não abriram totalmente seus mercados.