Título: BID QUER EMPRESTAR MAIS A SETOR PRIVADO E ESTADOS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 23/03/2006, Economia, p. 28

Proposta do banco é dispensar o aval da União

WASHINGTON. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está prestes a lançar uma nova política de financiamentos em relação ao Brasil. Ela tem duas frentes, que poderiam funcionar de forma separada e, também, em conjunto. Uma é emprestar cada vez mais ao setor privado. Outra é dar crédito aos governos estaduais e municipais, sem a necessidade de garantia do federal.

No caso específico da segunda vertente, haverá uma condição: o BID dispensará o endosso da União, desde que o dinheiro seja investido em projetos mistos. Ou seja: que contem com a participação dos governos regionais e de empresas privadas.

- Há, por exemplo, muitas empresas mistas de serviços públicos que necessitam de crédito. Nos interessa muito participar dessas parcerias público-privadas - disse o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, em entrevista a correspondentes brasileiros nos Estados Unidos, ontem, às vésperas de sua viagem ao Brasil.

O novo enfoque deverá ser divulgado mais detalhadamente na próxima semana em Belo Horizonte, durante a reunião anual do BID. Lá também deverá ser destacada a pretensão do banco em emitir bônus próprios em reais.

- O que o Brasil necessita mais, daqui para a frente, é de atividades financeiras em moeda local. E isso é algo que nós podemos ajudar a desenvolver, fazendo emissões de papéis do BID em moeda local - disse o executivo, acrescentando que a idéia inicial seria a de lançar bônus de dez anos.

Quanto à maior participação do setor privado brasileiro na carteira de empréstimos do banco, Moreno disse que se trata de tendência natural para um país que está próximo de assumir a posição de investment grade (grau de investimento). Ou seja: de atrair cada vez mais fluxos de investimentos diretos praticamente sem riscos.

Na capital mineira, Moreno também deverá decidir quem será o brasileiro que ocupará a vice-presidência de finanças e administração do BID. O posto é ocupado atualmente pelo ex-ministro João Sayad.

O governo brasileiro recomendou para a vaga o atual secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Isso, no entanto, não é garantia de escolha.

- Estou analisando vários candidatos. São todos brasileiros, porque essa posição é ocupada historicamente pelo Brasil e continuará assim - disse.