Título: MAIS RISCOS PARA AMAZÔNIA
Autor: Roberta Jansen
Fonte: O Globo, 23/03/2006, Ciência e Vida, p. 34

Metade da floresta em território brasileiro pode desaparecer até 2050, alerta estudo

Mais da metade da floresta amazônica em território brasileiro pode desaparecer até 2050 - com sérias conseqüências para o clima nacional e global - se medidas para a conservação do ecossistema não forem adotadas seriamente. O alerta foi feito em estudo coordenado pelo cartógrafo brasileiro Britaldo Silveira Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais, e publicado na última edição da "Nature".

A destruição também seria bastante significativa se for levada em conta toda a extensão da Amazônia Legal: 40% da floresta. A degradação se deve ao intenso desmatamento ligado a atividades como o cultivo de soja e a abertura de pastos. Sem falar na indústria madeireira. Toda essa atividade contribuiu também para a expansão da rede de rodovias.

- Essa projeção reflete o cenário mais pessimista e leva em conta alguns pressupostos: que a rede de áreas protegidas não aumente, que essas áreas só existam no papel, que legislação continue sendo desrespeitada, que os remanescentes de florestas em áreas privadas sejam reduzidos e que a expansão das rodovias continue - enumerou o pesquisador.

No cenário mais otimista, que prevê a expansão das áreas protegidas (dos atuais 33% do território da Amazônia Legal para 41%), a implementação de fato dessas áreas e o cumprimento do código florestal, a redução da floresta seria bem menor: cerca de 20%. Vale lembrar que a Amazônia já perdeu 15% de sua cobertura original.

Comparando o cenário mais otimista com o mais pessimista, os cientistas calcularam quanto de CO2 deixaria de ser lançado na atmosfera se a destruição não for tão intensa. O volume seria significativo: 17 bilhões de toneladas. Como isso contribuiria para o aquecimento do planeta e afetaria o clima global é o tema de um outro estudo, que vem sendo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Mas os cientistas têm certeza de que o impacto seria grande. Tanto assim que, sugere Soares Filho, o estudo poderia ser utilizado para convencer países desenvolvidos a financiarem mecanismos de proteção da floresta que poderiam ser previstos numa nova edição do Protocolo de Kioto. Segundo a versão atual do documento, créditos de carbono só podem ser negociados sobre novas florestas plantadas e não sobre áreas onde o desmatamento foi impedido.