Título: A PARCERIA ESTRATÉGICA COM ANGOLA
Autor: Emílio Odebrecht
Fonte: O Globo, 24/03/2006, Opinião, p. 7

O relacionamento de Angola com Brasil transcende séculos. Com a Bahia, em particular, a relação é marcante por influência da cultura angolana e da conseqüente miscigenação. O Brasil se orgulha, especialmente, de ter sido a primeira nação a reconhecer a proclamação da independência da República Popular de Angola, liderada por Agostinho Neto, em 11 de novembro de 1975.

Fiquei irreversivelmente vinculado ao destino desse país a partir do início dos anos 80, quando a Odebrecht enviou a sua primeira missão a Luanda. Jamais deixei de acompanhar o esforço desenvolvido para a consolidação da sua independência, buscando compreender sua complexidade e suas contradições, sofrendo com a conjuntura marcada por conflitos internos e testemunhando a mobilização dos angolanos no rumo da tão sonhada unificação nacional.

Testemunhei também a sinceridade de propósitos do governo de Angola quando enfrentou ciladas e obstáculos originários do exterior, com conseqüências e incidentes internos e vice-versa, ou seja, incidentes internos com conseqüências externas. O mundo assistiu a diversos acordos de paz para a mesma guerra, além das dificuldades de provimento de alimentos e medicamentos, bem como as emergências oriundas das necessidades decorrentes do conflito, da mesma maneira como acompanhou a competência do governo, sob a liderança do presidente José Eduardo dos Santos, em conduzir tão árduo processo.

Muitos foram, nessas três décadas, os repetidos períodos de conflitos que mutilaram as esperanças das mais jovens gerações de angolanos dedicados à tarefa de reconstruir o país.

Nos últimos anos, os angolanos puderam dispor de paz e segurança para pensar o seu país e delinear soluções para os problemas que se colocam na reconstrução de infra-estruturas básicas. Nesse período, o crescimento econômico voltou a se fazer presente e o panorama de estabilidade tem-se consolidado com a queda dos índices de inflação.

O atual processo de estabilização tem criado confiança nos investidores internos e externos, fato que, por sua vez, dinamiza a economia ao construir uma via sólida para a criação de oportunidades de trabalho, geração de renda e, por conseguinte, para a erradicação da pobreza por meio do desenvolvimento e da ampliação de projetos de responsabilidade social.

A parceria com Angola vem sendo incrementada pelo governo brasileiro mediante a viabilização de financiamentos para a exportação de bens e serviços para o país, impulso fundamental nas relações de cooperação que ratificam a identificação das duas nações irmãs, reforçadas por um crescente intercâmbio comercial e cultural que amplia as perspectivas das relações desenvolvidas entre os dois países.

A análise do presente permite verificar que, em 2005, praticamente 1.000 empresas brasileiras exportaram diretamente para Angola - o que significa um aumento de 74% em comparação a 2003, quando somavam 570 as empresas exportadoras brasileiras para aquele país -- mantendo-se na casa de nove centenas o número de empresas brasileiras que exportaram bens e serviços através da Odebrecht.

Em termos de valor, as exportações totais de bens mais do que dobraram desde 2003, alcançando um pouco mais do que meio bilhão de dólares em 2005. Isto demonstra o significativo aumento das exportações diretas de bens de empresas brasileiras para Angola. Ou seja, Angola passou a ser importante importador de bens e serviços brasileiros, com e sem a assistência financeira do Proex, e, seguramente, a construção da hidroelétrica de Capanda desempenhou importante papel nesta trajetória.

As exportações do Brasil para Angola representaram 2,6% do PIB daquele país no ano passado - relação extremamente elevada quando comparada com outros países e, principalmente, com os africanos.

Desta maneira, fica evidente que o estreitamento das relações com o continente africano constitui para o Brasil uma obrigação política, moral e histórica. Com 76 milhões de afro-descendentes, somos a maior nação negra do mundo fora da África e o país está empenhado em refletir essa circunstância em sua atuação externa. Está claro o compromisso do Brasil com uma renovada agenda política, econômica, social, comercial e cultural com a África.

EMÍLIO ODEBRECHT é presidente do Conselho de Administração da Odebrecht S.A.