Título: LULA DIZ QUE EDUCAÇÃO SÓ MELHORA EM 20 ANOS
Autor:
Fonte: O Globo, 24/03/2006, O País, p. 13

Presidente afirma que situação dos professores se deteriora e sugere que salários sejam transformados em dólar

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem na reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que serão necessárias duas décadas para resolver os problemas de educação no país. O presidente, que já está no cargo há três anos e três meses, criticou a estrutura física de algumas escolas, que chamou de caixas de fósforo, e disse que no passado a profissão de professor era motivo de orgulho e, hoje, de sofrimento. Lula falou dos baixos salários dos professores e das agressões que eles sofrem em sala de aula:

- Precisamos definir claramente o que queremos ser daqui a 20 ou 30 anos, porque só vamos resolver o problema da educação daqui a duas gerações, não em curto prazo.

O presidente afirmou que a situação dos professores brasileiros entrou num processo de deterioração. E sugeriu que os salários fossem transformados em dólar e comparados com os vencimentos de 15 anos atrás.

- Hoje não seria mais possível um artista brasileiro cantar aquela música enaltecendo a normalista ou a professorinha. Se antes a profissão era motivo de orgulho, hoje é motivo de sofrimento - disse Lula, acrescentando que na sua época de estudante todos se levantavam quando a professora chegava:

- O que a gente mais vê nos jornais e na televisão são fatos de professores que não têm mais condições de exercer sua função de mestre dentro da sala de aula. Tem criança que pega professor na rua e bate. Tem professor com medo.

Lula criticou o tamanho das escolas construídas atualmente e sugeriu ao ministro da Educação, Fernando Haddad, que reúna os governadores para discutir isso:

- Eu não sei se, para ficar mais barato, constrói-se uma caixa de fósforo e mete-se as crianças lá dentro

Lula aproveitou a reunião para rebater comparações entre o crescimento econômico do Brasil e o do Haiti, feitas por setores da oposição, incluindo o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Para Lula, comparar o Brasil com o Haiti é uma heresia e não serve para o processo de educação política da população:

- Comparar o Brasil com o Haiti é, no mínimo uma heresia, porque em hipótese alguma, da economia à sociologia, podemos comparar as duas nações.

A reação do presidente foi provocada pela conselheira Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, que leu a declaração de outro conselheiro. Na carta, à qual Viviane declarou apoio, o crescimento do PIB brasileiro no ano passado - de 2,3% - foi relacionado ao do Haiti, o menor entre todos os países das Américas.

O presidente afirmou que a sociedade não pode esperar pelo governo, seja federal, estadual ou municipal, para resolver seus problemas. Para Lula, é "bobagem" ficar na dependência dos governos, porque todos são passageiros. Ele afirmou ainda que a população quer boas notícias, mas muitos preferem dar destaque às más.