Título: DESEMPREGO SOBE PARA 10,1% E RENDA MELHORA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 24/03/2006, Economia, p. 25

Taxa teve alta acima do esperado em fevereiro, com aumento da procura por vagas. Cresceu o emprego formal

RIO e BRASÍLIA. A taxa de desemprego subiu com força em fevereiro e, depois de oito meses abaixo dos 10%, ficou em 10,1%, contra 9,2% em janeiro, informou ontem o IBGE. Nos primeiros meses do ano, é comum o desemprego subir. Mas a alta registrada de janeiro para fevereiro ficou acima da expectativa dos analistas - que previam uma taxa em torno de 9,6% - e foi superior à verificada em anos anteriores. Ainda assim, a taxa de desemprego de 10,1% foi a menor para um mês de fevereiro desde 2003. E a renda média dos trabalhadores subiu 1,1% frente a janeiro.

Para economistas, o aumento do desemprego não significa que houve uma piora no mercado de trabalho. Eles afirmam que a taxa subiu porque mais trabalhadores saíram em busca de vagas, animados com a perspectiva de uma melhora na economia. A população desocupada - pessoas que estão procurando emprego - cresceu 9,5% nas seis maiores regiões metropolitanas do país.

Para IBGE, taxa reflete desaquecimento de 2005

Marcelo de Ávila, consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que houve um estímulo aos trabalhadores:

- Os juros estão caindo há seis meses, os rendimentos estão crescendo e haverá o reajuste do salário-mínimo. Há um conjunto de informações positivas sendo divulgadas e isso pode influenciar as pessoas a voltarem para o mercado de trabalho - afirma.

Ele destaca que, no mês passado, mais 109 mil pessoas passaram a procurar emprego. Foi o maior aumento da população desocupada para um mês de fevereiro registrado pelo IBGE desde 2003.

Ministro aposta em queda da taxa de desemprego no ano

Para Cimar Azeredo, coordenador da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, fevereiro marca um momento de alerta para o mercado de trabalho. Ele destaca que a taxa de desemprego cresceu 0,9 ponto percentual de janeiro para fevereiro, numa magnitude muito superior à registrada em anos anteriores - em 2005, por exemplo, a alta fora de apenas 0,4 ponto percentual.

- Estamos saindo de 2005, quando o segundo semestre praticamente não registrou criação de vagas devido à crise política e à alta dos juros. O que está ocorrendo agora é reflexo do desaquecimento da economia no segundo semestre do ano passado - disse Azeredo.

Mas os dados de fevereiro mostram uma melhora na qualidade dos postos de trabalho criados, com mais vagas formais e um aumento da renda. Entre todas as categorias de trabalhadores, só houve corte de postos de trabalho no emprego sem carteira: queda de 3,4% frente a janeiro, com o fechamento das vagas temporárias abertas durante o Natal e as férias de janeiro.

O emprego com carteira assinada ficou praticamente estável na comparação com o mês anterior e subiu 5,1% em relação a fevereiro de 2005.

Já o rendimento real teve alta de 1,1% frente a janeiro e de 2,5% na comparação com fevereiro de 2005, quase chegando a mil reais: R$999,80.

- O crescimento da renda real corrobora a avaliação de que não houve uma piora no mercado de trabalho. A massa salarial (total dos ganhos de todos os trabalhadores) vem crescendo e, hoje, está no maior patamar desde 2002 - afirma Solange Srour, economista da Mellon Global Investments.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) calcula que a massa salarial cresceu 5% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Os economistas acreditam que a taxa de desemprego pode continuar subindo em março, porque sazonalmente há um aumento da desocupação nos primeiros meses do ano. Mas a tendência é de um comportamento mais favorável do mercado de trabalho este ano:

- A economia deve crescer mais em 2005 e será puxada pela demanda doméstica - diz Solange, da Mellon.

Para o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, a alta da taxa de desemprego "não é motivo para preocupação", pois reflete a maior procura por vagas:

- A economia está crescendo e estou certo de que o desemprego cairá este ano - disse Marinho.

Traduzindo o Economês

Diferença na metodologia

A alta na taxa de desemprego verificada pelo IBGE não é contraditória com a forte criação de vagas formais constatada pelo Ministério do Trabalho no mês passado, quando foram abertos 176 mil postos com carteira assinada, patamar recorde para fevereiro.

Além das vagas com carteira, o IBGE investiga também o emprego informal e o trabalho por conta própria. Apesar da taxa de desemprego ter subido, o IBGE constatou um aumento no emprego formal o que, segundo analistas, reflete uma melhora no mercado de trabalho. Foram 22 mil novas vagas com carteira assinada nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pela pesquisa.

A abrangência geográfica da pesquisa do IBGE alcança o equivalente a um quarto do mercado de trabalho brasileiro. Já os dados do Ministério do Trabalho são coletados em todo o país. (L.R.)