Título: MINISTRO NEGA TER PENSADO EM DEMISSÃO
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 24/03/2006, Economia, p. 25

Roberto Rodrigues diz que deve ficar no cargo até o fim do governo Lula

SÃO PAULO. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, negou ontem que tenha considerado a possibilidade de deixar o cargo em razão do desgaste durante as negociações com a equipe econômica do governo para a elaboração de um pacote de medidas emergenciais para o setor. O pacote, cujo valor, garantiu, ainda não está definido, servirá para "minimizar" a situação do setor agrícola que, segundo ele, amarga prejuízos que chegam a R$30 bilhões.

- Chegamos ao fundo do poço. Nos últimos dois ou três anos a agricultura tem acumulado prejuízos que chegam a R$30 bilhões. O endividamento do setor agrícola é muito grande. Este é um momento de grande dificuldade em função dos compromissos financeiros - disse o ministro, que participou ontem de almoço na Câmara de Comércio Brasil-Alemanha.

Sem apresentar os valores reais e negando que o pacote seja de R$6 bilhões, como chegou a ser divulgado, Roberto Rodrigues afirmou que as negociações para as medidas estão em andamento, mas só devem ser anunciadas na semana que vem, depois de terminadas as discussões técnicas. Ele adiantou que a área de comercialização da safra receberá cerca de R$1,5 bilhão.

Perda de renda é principal motivo de problemas no setor

Perguntado se havia pensado na possibilidade de deixar o ministério por causa das dificuldades nas negociações do pacote, Rodrigues foi lacônico:

- Não.

Com a mesma economia de palavras respondeu quando questionado sobre as chances de continuar à frente do ministério até o fim do governo do presidente Lula:

- Boas.

As dificuldades do setor agrícola do país, segundo o ministro, são fruto das perdas acumuladas de renda nas últimas safras, aliada a um endividamento muito grande.

- As contas deste ano não estão fechando em várias regiões por causa da questão cambial, que faz com que alguns preços agrícolas em reais fiquem muito baixos - explicou, citando ainda a forte oferta de produtos no mercado internacional.

De acordo com Rodrigues, a redução das exportações brasileiras de frangos para grandes mercados como Europa e Ásia, em função da gripe aviária, que derrubou os preços do produto, já causa problemas em cadeia à economia brasileira.

- A gripe aviária tem um reflexo indireto (na crise agrícola do país) que na verdade é tão poderosa ou mais do que os problemas internos - disse.

Governo vai garantir preço mínimo do milho

A queda das vendas externas, segundo ele, provoca a redução de alojamento de pintos, de empregos e do consumo de rações, sobretudo as misturas baseadas em milho e soja.

- O reflexo é imediato nos preços destes produtos. Hoje um saco de milho custa entre R$7 e R$8, o que não cobre nem 60% dos custos de produção. Há um efeito em cadeia muito duro no agronegócio e nós vamos tentar reverter os efeitos pelos mecanismos de apoio à comercialização. Isso significa uma ação do governo para garantir o preço mínimo do produto - afirmou.