Título: ESPÉCIES INVASORAS: PREJUÍZO DE US$50 BILHÕES
Autor: Tulio Brandão
Fonte: O Globo, 24/03/2006, Ciência e Vida, p. 32

Plantas e animais exóticos trazem doenças, destroem ecossistemas naturais e causam perdas econômicas

CURITIBA. As espécies invasoras são conhecidas pelos danos que causam aos ecossistemas e à saúde pública. Agora, além disso, provou-se que são culpadas por enormes prejuízos na economia. Um estudo realizado pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, revela que o Brasil perde por ano cerca de US$50 bilhões com a introdução de plantas e animais exóticos com potencial nocivo.

E eles não param de chegar. Um levantamento feito pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e outras instituições revela que o país já tem pelo menos 500 espécies exóticas que afetam o meio ambiente, a agricultura e a saúde pública.

O problema, observado em todo o mundo, é um dos temas discutidos na 8ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP8), em Curitiba. Ontem, o governo federal anunciou que o Brasil será o primeiro país a aderir ao Programa Global de Espécies Invasoras (GISP), sediado na África do Sul, que dá suporte à ONU no tema. A intenção do programa é criar um plano de trabalho inicialmente entre dez países afetados para formular estratégias de controle da entrada dessas espécies.

No estudo realizado por David Pimentel, da Universidade de Cornell, se estima que as perdas econômicas decorrentes das espécies invasoras só na agricultura, pastagem e reflorestamento cheguem a US$42,6 bilhões. E os prejuízos gerados por ratos e doenças humanas chegam a US$6,3 bilhões.

A coordenadora do Programa de Espécies Invasoras da TNC na América do Sul, Sílvia Ziller, explica que o tema no Brasil só começou a ser tratado com profundidade em 2003, quando o governo decidiu fazer um inventário das plantas e animais exóticos que causam danos aos ecossistemas. O levantamento ficou pronto no fim do ano passado e lista 300 espécies - sabe-se agora que o número é maior. Segundo a pesquisadora, o Brasil é pioneiro na América Latina no estudo da questão:

- Ainda há muito o que fazer em termos de prevenção. No Havaí, por exemplo, o interior dos aviões é pulverizado com inseticida antes de os turistas saírem, para evitar a entrada de insetos exóticos. Como 75% da introdução dessas espécies é voluntária, é possível controlar o problema com fiscalização.

No Brasil, há exemplos de introdução de espécies invasoras conhecidas. As jaqueiras, por exemplo, foram trazidas do sul da Ásia no século XIX. Com o tempo, os pássaros propagaram as sementes e elas se espalharam pelas florestas brasileiras. Mas, segundo o consultor da TNC para espécies exóticas invasoras, Rafael Zenni, a jaqueira dificulta ou impede o surgimento de outras plantas. Ele dá outros exemplos, como a tilápia.

- É um peixe que se alimenta de outras espécies menores e foi trazido, por incentivo do próprio governo, para ser criado em tanques. Como não há controle, esses recipientes vazaram para rios e lagoas. Com isso, a tilápia dominou os ecossistemas aquáticos.

As espécies invasoras avançam até sobre unidades de conservação - já são 196 as afetadas. Zenni explica que os gestores de modo geral não combatem o problema. Uma exceção é o Parque Nacional da Tijuca, de onde foram retiradas as jaqueiras mesmo sob protesto de alguns freqüentadores.

Nem todas as espécies exóticas, no entanto, são invasoras. O consultor da TNC explica que, segundo um estudo da Nova Zelândia, apenas três em cada 100 espécies exóticas são invasoras, ou seja, causam danos ao ecossistema natural.

- O problema não está relacionado ao número de espécies, mas sim ao dano potencial causado por cada uma delas, que pode ser altíssimo.

O problema das espécies invasoras não tem fronteiras. O queniano Dennis Rangi, presidente do GISP, diz que países com menos recursos têm menor potencial de reação, mas as espécies causam danos em todos os lugares.

- Países europeus e asiáticos têm ou já tiveram problemas de saúde pública relacionados a espécies invasoras, como a febre aftosa e o mal da vaca louca. O problema ocorre em todo lugar.

Inclui quadro:Saiba mais sobre os invasores