Título: Mandante da quebra ilegal é do alto escalão
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 25/03/2006, O País, p. 12

Executivo está em nível hierárquico acima dos funcionários da Caixa que teriam acessado a conta do caseiro

BRASÍLIA. A Caixa Econômica Federal identificou um dos supostos mandantes da invasão da conta do caseiro Francenildo Santos Costa, que contradisse o ministro Antonio Palocci. O suspeito é um funcionário do alto escalão da Caixa com funções executivas. Ele está num nível hierárquico acima dos outros dois servidores da estatal que teriam acessado a conta do caseiro na quinta-feira da semana passada. A informação foi repassada à Polícia Federal, que mantém sigilo sobre a identidade dos suspeitos.

A PF decidiu ontem, pela segunda vez, intimar o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, para aprofundar as investigações sobre o caso.

¿ A Polícia Federal não compactuará com a tentativa de transferir a responsabilidade exclusivamente para as pessoas de menor importância na cadeia de comando que, portanto, não possuem poder decisório ¿ afirmou o delegado da PF Rodrigo Gomes, depois de se reunir com dois dirigentes e dois advogados da Caixa.

O delegado não disse quem estaria tentando acusar subordinados para se livrar de indiciamento. Mas um funcionário do governo, que está acompanhando de perto os bastidores da investigação, disse que o mandante da invasão da conta do caseiro seria um executivo da Caixa. Segundo um dos investigadores, a reserva em relação ao nome dos investigados é importante para não prejudicar o andamento da apuração. Um dos acusados já prestou depoimento à PF.

Os nomes dos primeiros suspeitos foram apresentados à PF durante uma reunião entre Rodrigo Gomes e o presidente da Comissão de Sindicância interna da Caixa, Marcos César Casale, e pelo superintendente de Segurança de Informação, Delfino Natal. A reunião começou às 9h e só terminou seis horas depois. Após o encontro, o advogado Jailton Zanon, pressionado por jornalistas, disse que Mattoso está disposto a prestar depoimento. Ele não revelou, porém, quando será o interrogatório.

PF diz que pode investigar outras áreas do governo

Para a PF, o ideal é ouvir o presidente da Caixa na segunda etapa das investigações. Rodrigo Gomes quer confrontar Mattoso com informações obtidas a partir dos depoimentos de outros servidores da Caixa. Um policial disse ainda que, se for necessário, a investigação será estendida a outras áreas do governo e não apenas à Caixa. Durante a reunião, os executivos da Caixa explicaram ao delegado o funcionamento do sistema de segurança de informação da Caixa.

Eles revelaram os significados dos códigos que aparecem no extratos bancários e o que é possível ser feito para chegar, com exatidão, aos usuários de computadores da rede de informática da instituição. Os executivos apresentaram os nomes dos suspeitos e fizeram um balanço da investigação interna que estão fazendo. A polícia, que estava irritada com a resistência inicial da Caixa em repassar informações, ficou satisfeita com as explicações.

¿ A Caixa está cooperando ¿ disse o delegado.

PF ainda não periciou laptop usado por funcionários

Depois da reunião, no início da noite, Rodrigo Gomes tomou o depoimento de um dos suspeitos de envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro. Ele entrou por uma das portas laterais da PF e não foi visto pelos jornalistas de plantão no local. O funcionário da Caixa prestou depoimento acompanhado de dois advogados. A PF ainda está tentando intimar os outros suspeitos. Um deles estaria fora de Brasília.

¿ Não podemos informar o paradeiro deles ¿ disse uma funcionária da Caixa.

A PF pretendia periciar ainda ontem o laptop que funcionários da Caixa teriam usado para invadir a conta do caseiro. Para apressar o trabalho, Rodrigo Gomes pediu que uma equipe de peritos do Instituto Nacional de Criminalística ficasse de plantão à espera do computador. A Caixa prometeu entregar o equipamento à PF em Brasília ainda ontem. A PF e a Caixa informaram que não vão divulgar os nomes dos suspeitos enquanto não houver certeza da culpa de cada um deles.

¿ Não serão divulgados os nomes dos servidores para preservar a intimidade e garantir o amplo direito de defesa e do contraditório ¿ disse um assessor da cúpula da PF.

A investigação da Polícia Federal começou no início da semana. O primeiro a ser ouvido foi o delegado Wilson Damázio. Ele foi responsável por ouvir o caseiro Francenildo Santos Costa que negociava a entrada em programa de proteção a testemunhas. Francenildo acabou desistindo de ficar sob segurança da PF. No momento em que estava na Caixa, na noite do dia 16, sua conta foi invadida por funcionários da Caixa. O extrato foi repassado à imprensa numa quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro. A divulgação do extrato jogou o governo numa nova crise e serviu para a oposição voltar a fazer carga contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) chegou a dizer que tinha informações de que cópia do extrato teria sido enviada da Caixa para assessores do gabinete de Palocci antes de chegar na imprensa.