Título: `Eu peço desculpas ao povo brasileiro¿
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 25/03/2006, O País, p. 13

Deputada petista admite que dançar no plenário após da absolvição do colega foi um ato irresponsável e inoportuno

Determinada e destemida quando o assunto é a defesa dos petistas envolvidos no escândalo do mensalão, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) baqueou ontem. Dizendo-se surpresa com a repercussão do chamado samba da pizza ¿ ela sambou no plenário para comemorar a absolvição do acusado ¿ admitiu que, embora espontâneo, seu comportamento foi irresponsável e indevido. Pediu desculpas e buscou apoio no Salmo 84, da Bíblia, para atravessar um dia de cão.

A senhora ficou assustada com a repercussão de sua dança no plenário?

ÂNGELA GUADAGNIN: Embora seja racional, sou também muito emocional. Manifesto minha raiva ou minha alegria com muita intensidade. Fiquei indignada com aquela exposição descabida. Nunca vi tamanha repercussão quando outros episódios aconteceram no plenário. Já teve gente que tirou a roupa, que partiu para os sopapos, rasgou bandeira, quebrou microfone, xingou o presidente, jogou dinheiro na cabeça dos deputados. Nada disso chocou tanto? Uma manifestação de alegria por um amigo absolvido chocou mais do que tudo isso? Estou indignada com essa repercussão.

Muitos consideraram um escárnio a comemoração da impunidade...

GUADAGNIN: Não estava debochando nem tripudiando de ninguém. Eu não compactuo com a corrupção e a impunidade. Mas peço desculpas ao povo brasileiro se naquele momento tive uma manifestação espontânea de alegria. Mas repito, num plenário onde já aconteceu de tudo. Não tenho dúvida que essa repercussão toda é puro preconceito: sou mulher, de idade, e única do PT no Conselho.

O que a senhora sentiu quando viu as imagens? Ficou envergonhada?

GUADAGNIN: Fiquei chocada e indignada com o destaque dado ao caso. Não fiquei envergonhada. Percebi logo que tinha feito uma coisa que não deveria. Foi um ato irresponsável, inoportuno, imprevidente e espontâneo que não foi compreendido em sua real dimensão. Não concordo que foi um escárnio ou um deboche.

A imagem mostra a senhora dançando. O que cantava?

GUADAGNIN: Quando vimos que a absolvição estava garantida, o plenário estava vazio. Eu me levantei, fui na sua direção e cantarolava: ¿vou ser a primeira a dar um abraço no João Magno, vou ser a primeira a dar um abraço no João Magno...¿ Cantarolei isso rindo e me manifestando com os braços. Foi um sentimento humano. Daqui para frente vou ter que controlar mais esse instinto. Mas não vou me transformar numa máquina.

Como a senhora está atravessando esse dia seguinte, após sua atitude?

GUADAGNIN: Hoje cedo eu acordei com uma mensagem me recomendando a leitura do Salmo 84. Esse salmo diz os momentos que devemos rezar, e os momentos que devemos dançar e cantar. Eu estava dançando em busca da Justiça.