Título: DECLARAÇÃO DE LULA FOI AMBÍGUA, AFIRMA SOCIÓLOGO
Autor: Ediane Merola
Fonte: O Globo, 25/03/2006, O País, p. 17

`Mas sou otimista. Algumas iniciativas darão resultado¿

Depois de três anos de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente reconheceu a gravidade do problema estrutural que há na educação brasileira. A avaliação é do sociólogo Jailson de Souza e Silva, professor da UFF. Segundo ele, Lula foi ambíguo ao dizer que o problema da educação só será resolvido em duas décadas, mas parece ter mostrado que tem noção de que este não pode ser um projeto para curto prazo:

¿ Ele foi infeliz ao dar um tom de que não tem nada a ver com isso, mas sou otimista. Acho a declaração ambígua, mas positiva. Os problemas da educação não serão resolvidos de uma hora para a outra ¿ avaliou Jailson, coordenador da ONG Observatório de Favelas e consultor da Unicef. ¿ Acredito que iniciativas como o Fundeb, a universalização do ensino e a melhoria da qualidade do ensino trarão melhorias para a educação a longo prazo.

O sociólogo Simon Schwartzman concorda que os problemas da educação não serão resolvidos a curto prazo, mas alerta que, para obter resultados positivos no futuro, o governo precisa fazer um diagnóstico correto dos problemas que serão enfrentados:

¿ Nos últimos três anos o governo bateu muita cabeça. Já estamos no terceiro ministro; a educação fundamental não foi prioridade; gastaram muito tempo com discussões sobre reforma universitária; desmontaram o Provão. Mas há boas propostas como a criação do Fundeb, que ainda está sendo avaliada no Congresso.

Lula reconhece deterioração da situação dos professores

Em discurso na quinta-feira, o presidente afirmou ainda que a situação dos professores brasileiros entrou num processo de deterioração. Segundo Lula, se antes a profissão dava orgulho, hoje é motivo de sofrimento. Jailson discorda do presidente e critica o processo de vitimização dos professores:

¿- O professor deve assumir um compromisso ético e exigir melhorias de salários, de estrutura de trabalho. Mas para isso tem que assumir uma nova postura. Acho um exagero, por exemplo, falar da relação professor-aluno. Criança de comunidade não é criminosa. Muitas vezes é o professor que comete a violência.

Membro titular da Academia Brasileira de Educação, o professor Éfrem Maranhão também acredita que o presidente agora entendeu que o problema da educação é para ser resolvido a médio e longo prazos. Segundo ele, nos últimos vinte anos o cargo de ministro da Educação teve vários titulares, o que dificulta a continuidade de um projeto voltado para a melhoria do sistema.

¿ Cada um que chega quer fazer um projeto do seu jeito. A maior continuidade nesta área foi no governo Fernando Henrique Cardoso, que manteve o ministro Paulo Renato Souza no cargo, durante seus dois mandatos. Mas em geral o que temos são planos de governo e precisamos de um plano nacional de educação ¿ disse Éfrem, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário de Educação de Pernambuco.