Título: DISCURSO DE PALOCCI AJUDA A ACALMAR MERCADO
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 25/03/2006, Economia, p. 39

Dólar abriu em alta, mas recuou à tarde para R$2,154. Dados dos EUA também tranqüilizaram investidores

RIO e WASHINGTON. Depois de uma semana de forte volatilidade e tensão por causa das denúncias contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e, principalmente, da trajetória dos juros nos Estados Unidos, o mercado financeiro brasileiro teve ontem um dia de recuperação. Dados mais positivos da economia americana e declarações do ministro ¿ que falou em público pela primeira vez após as denúncias ¿ ajudaram o dólar a fechar em queda de 0,37%, cotado a R$2,154 para venda, próximo à mínima do dia de R$2,152. O risco-Brasil, que indica a confiança de investidores estrangeiros no país, ficou estável em 232 pontos centesimais e o Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, subiu 0,25%, cotado a 130,12% do valor de face.

O dia começou negativo, com o risco-Brasil subindo quase 2% (para 236 pontos centesimais) e o dólar, mais de 0,80%. Na máxima do dia, a moeda chegou a valer R$2,18. Investidores estavam apreensivos em relação aos dados de vendas de imóveis nos Estados Unidos, que são um importante termômetro de expansão econômica. No início da tarde, o governo americano divulgou que as vendas de novas moradias despencaram 10,5% no mês passado. Foi a maior queda em quase nove anos, o que fez com que o dólar se desvalorizasse em relação às principais moedas globais.

Vendas de casas nos EUA têm maior queda em nove anos

Os dados reforçaram a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não elevará os juros básicos da economia ¿ hoje em 4,5% ao ano ¿ para mais de 5%. A próxima reunião do Fed acontece na terça-feira e as apostas são de que as taxas subirão para 4,75% ao ano. Um ajuste mais lento e gradual nas taxas dos Estados Unidos favorece aplicações em mercados emergentes, como o Brasil, já que estimula os investidores a buscarem melhores taxas em outros mercados além do americano, considerado de risco zero.

¿ É isso o que o Fed quer: o setor imobiliário desacelerando. O Fed está muito próximo de encerrar o ciclo de alta dos juros. Acho que eles acabam depois da próxima reunião ¿ disse Robert MacIntosh, economista-chefe do Eaton Vance Management.

Ontem, também era grande a preocupação dos investidores com o primeiro discurso de Palocci após denúncias de envolvimento do ministro num esquema de pagamento de propinas em Ribeirão Preto. Palocci é acusado pelo caseiro Francenildo Costa de ter freqüentado uma mansão alugada em Brasília por lobistas de Ribeirão Preto. Ontem, o ministro discursou na posse do novo conselho da Câmara Americana de Comércio, em São Paulo.

Palocci diz que economia não sofrerá com política

O ministro classificou as denúncias como ¿jogo politiqueiro¿ e garantiu que a economia não deve sofrer influências negativas da turbulência política recente. Segundo ele, a economia brasileira caminhará bem mesmo com ¿eleição conturbada¿. O discurso tranqüilizou investidores e consolidou o clima positivo dos mercados. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que chegou a cair 0,30%, acompanhando perdas das bolsas americanas, encerrou ontem em alta de 0,28%.

¿ O discurso de Palocci ajudou a garantir a melhora dos mercados após os dados da economia americana. No entanto, os investidores continuam apreensivos em relação a uma possível saída do ministro do governo, mesmo que ninguém acredite hoje em mudanças na política econômica ¿ explicou José Roberto Carreira, gerente de câmbio da corretora Novação.

(*) Com agências internacionais