Título: TAXA DE TÍTULOS FEDERAIS REGISTRA QUEDA
Autor:
Fonte: O Globo, 25/03/2006, Economia, p. 39

Isenção a estrangeiro e recuo do risco-Brasil são os principais motivos

Nos últimos três meses, as taxas dos títulos de longo prazo do governo federal vêm recuando num ritmo acelerado, em descompasso com os juros básicos da economia, a Selic, que caem gradualmente desde setembro do ano passado. Nas NTN-Bs (papéis cuja rentabilidade está atrelada ao IPCA, índice usado como referência para as metas de inflação do governo) com vencimento em 2010, por exemplo, as taxas caíram de 11,47% anuais em dezembro para 9,61% ao ano ontem. Isto significa que os títulos pagam agora a variação do IPCA mais 9,61% ao ano.

Já nas NTN-Bs com vencimentos de mais longo prazo, como o de 2045, a taxa recuou de 9,15% ao ano em novembro para 7,59% anuais ontem. O mesmo ocorreu com outros títulos do governo. No caso das NTN-Fs que vencem em 2012, cujos juros são prefixados, a taxa caiu de 16,8% ao ano em outubro de 2005 para cerca de 14% anuais.

Segundo analistas, a forte queda do risco-Brasil e a isenção de Imposto de Renda concedida em fevereiro a estrangeiros que aplicam em títulos federais explicam a forte demanda pelos papéis e a conseqüente queda dos juros de títulos de médio e longo prazos. Este ano, o risco-país já caiu 25,40%, o que supera o recuo de todo o ano de 2005, de 18,59%.

O aumento das aplicações de investidores internacionais é percebido no saldo de transações correntes (que representam as operações do país com o exterior, como exportação, importação e pagamento de juros de dívidas) de fevereiro, divulgado pelo Banco Central na última terça-feira. Só as aplicações em títulos de médio e longo prazos (acima de um ano) somaram US$1,176 bilhão em fevereiro, contra US$95 milhões de um ano antes, uma alta de 1.137%.

Taxas indicam projeção de inflação abaixo da meta

¿ Os juros pagos no mercado têm enorme correlação com a taxa de risco. E, com o risco-Brasil cada vez mais baixo, aumenta a demanda por papéis de vencimentos mais longos, considerados de mais alto risco. E as taxas devem continuar recuando ¿ avalia o economista Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.

Em relatório a clientes, o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga, afirmou que, ao se comparar as taxas prefixadas de um ano e os juros dos títulos indexados ao IPCA, é possível ver que ¿a inflação esperada implicitamente hoje encontra-se abaixo da meta, revelando uma grande credibilidade no cumprimento das metas pelo Banco Central¿.

¿ A forte queda indica que o mercado aposta que, embora a Selic não venha caindo rapidamente, as taxas recuarão a longo prazo, como prevê o BC ¿ diz Ian Caó, gestor de Renda Fixa da Icatu Hartford. (P.E.)