Título: TRABALHO DEMAIS FAZ GOVERNO PARAR OBRA DA CSN
Autor: Cássia Almeida e Dicler Simões
Fonte: O Globo, 25/03/2006, Economia, p. 41

Ministério cancela autorização para desmonte de alto-forno 3, em Volta Redonda, por jornada excessiva de operários

RIO e VOLTA REDONDA. A obra de desmonte do alto-forno 3 ¿ responsável por 60% da produção de ferro-gusa da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e parado desde janeiro depois de um acidente ¿ foi interditada pelo Ministério do Trabalho ontem. A jornada de trabalho de 12 horas seguidas, sem descanso semanal, provocou a ação dos fiscais de segurança e saúde da Delegacia Regional do Trabalho (DRT-RJ). Segundo o relatório de inspeção, todos os 520 operários na obra estão trabalhando 12 horas por dia, e pelo menos 30 de uma amostra de 50 deles estão sem descanso semanal durante todo esse mês.

¿ O desmonte do alto-forno precisava começar de cima. Os trabalhadores estão suspensos em gaiolas a uma altura de 85 metros. As normas de segurança impedem isso. Como não havia outra maneira de fazer o trabalho, concedemos a autorização, mas sob várias condições, que não estavam sendo respeitadas ¿ afirmou Luiz Sérgio Brandão de Oliveira, chefe do Setor de Segurança e Saúde da DRT-RJ.

Para poder usar as gaiolas a 85 metros do chão, não poderia haver hora extra, trabalho noturno e em dias de chuva ou vento.

¿ O cansaço põe em risco a vida dos trabalhadores, principalmente se ficam pendurados ¿ disse Oliveira.

A jornada era de 12 horas, em turnos interruptos de revezamento, quando a lei proíbe tempo no trabalho superior a seis horas seguidas (sem descanso), conforme consta do relatório de inspeção.

Empresa diz que acabou com os turnos ininterruptos

A CSN informou que já mudou a forma de trabalho, implantando dois turnos: das 7h às 16h30m e das 16h30m à 1h. A companhia disse ainda que não será necessário usar a gaiola no fim de semana e que mandará uma justificativa à DRT na segunda-feira, para poder voltar a usar o equipamento e prosseguir com o desmonte da estrutura.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos local, Carlos Henrique Perrut, foi surpreendido ontem à noite com o cancelamento da descida dos destroços da parte superior do alto-forno 3. Cerca de seis guindastes gigantes, com lanças que alcançam 130 metros de altura, de uma empresa especializada de Guarulhos, chegaram desmontados há mais de um mês a Volta Redonda e foram armados:

¿ É surpresa para mim. Recebi um fax para comparecer no dia 27 (segunda-feira) à Delegacia Regional do Trabalho, no Rio. É uma convocação para falar sobre as obras do alto-forno 3.

O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, Luiz de Oliveira Rodrigues, já esperava uma ação do Ministério do Trabalho contra a CSN por falhas de segurança na desmontagem do forno. Ele disse que tem recebido muitas denúncias:

¿ Sessenta trabalhadores de uma empreiteira disseram que trabalham 12 horas todo dia e são obrigados a chegar uma hora antes e deixar a usina uma hora depois.

Ele denunciou também que os vigilantes estão trabalhando em área de risco e não ganham adicional de insalubridade. Os operários de uma subsidiária da Usiminas, segundo Rodrigues, fazem o trabalho mais difícil e perigoso e estão esticando as jornadas de trabalho.

¿ O Ministério do Trabalho fez o trabalho que deveria ser feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos ¿ criticou.