Título: TV DIGITAL: EUROPEUS ENTREGAM OFERTA
Autor: Monica Tavares
Fonte: O Globo, 25/03/2006, Economia, p. 41

UE e empresas não divulgam investimento em fábrica de semicondutores

BRASÍLIA. A União Européia (UE) e a Coalizão DVB (Philips, Siemens, Thomson, Rohde&Schwarz e Nokia e ST Microeletronics) entregaram ao governo brasileiro o que chamaram de ampla oferta para a implantação de uma indústria de semicondutores no país. Os investimentos necessários e o porte da fábrica, a parte concreta de uma oferta, foram mantidos sob sigilo. Apenas uma carta de intenções ¿ com quatro passos a serem seguidos antes de ser batido o martelo sobre a viabilidade da unidade ¿ foi divulgada. A oferta, porém, está condicionada a que o Brasil adote o padrão europeu de TV digital.

Segundo o embaixador da UE no Brasil, João Pacheco, parte do documento foi considerada confidencial porque, ao trazer projeções de possíveis investimentos das multinacionais da coalizão, torna públicas informações estratégias das companhias. O embaixador confirmou ainda que pelo menos duas das principais companhias que fabricam semicondutores no mundo, a STM e a Philips, têm disposição de montar a fábrica no Brasil:

¿ Mas para fazer uma fábrica precisam cumprir um certo número de etapas. E o que foi feito na carta foi dizer quais eram as etapas.

Empresas podem comprar produção do Brasil

Quanto à possibilidade de os estudos mostrarem que não é viável implantar a fábrica no Brasil, o embaixador preferiu não se pronunciar. Mas acenou com a perspectiva de o Brasil ter mercado garantido para seus produtos:

¿ Não só as empresas estão dispostas a criar a inteligência, o conhecimento aqui no Brasil e desenvolver isso, como também estão dispostas a comprar a produção (dessas possíveis fábricas) do Brasil.

Ao ser perguntado se a proposta da UE tinha algum compromisso concreto sobre a fábrica, Pacheco disse que essa parte é confidencial.

O projeto da UE e da Coalizão prevê quatro etapas: a primeira é de preparação de mão-de-obra especializada; a segunda, de análise da viabilidade da fábrica; outra, de preparação das condições de infra-estrutura no país; e a última, de implantação das unidades produtoras.

Segundo Pacheco, pode começar imediatamente a primeira etapa, que é a de ajudar a criar um conhecimento próprio do Brasil nos centros de tecnologia e design. Os estudos de viabilidade podem começar ao mesmo tempo, se houver interesse do Brasil. Para a instalação das unidades é que é preciso ver se há viabilidade econômica.

Pacheco comentou o anúncio publicado na quinta-feira pelas emissoras de TV, na qual elas defendem uma televisão aberta e gratuita para o Brasil:

¿ Com o sistema europeu, podem não só ter uma televisão aberta e gratuita para o povo, mas podem ter uma televisão digital que chega a mais lares e que não chegue só aos que têm grande poder de compra. Uma televisão digital no sistema europeu é mais barata pela economia de escala. Com o sistema europeu seria possível, com o japonês, não.

A UE e as empresas também convidaram o governo a visitar as indústrias na Europa, depois que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou que uma comitiva de ministros visitará a Coréia e o Japão.