Título: SEM ALÍVIO NA PRESTAÇÃO
Autor: Luciana Calaza
Fonte: O Globo, 26/03/2006, Morar Bem, p. 1

Queda das taxas de juros não chega a contratos de mutuários da classe média

As sucessivas quedas dos juros básicos da economia (a taxa Selic), que de setembro do ano passado para cá passaram de 19,75% para 16,5% ao ano, tiveram, até agora, pouco reflexo para quem tem imóvel financiado pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH) ¿ juros anuais de 12% mais a Taxa Referencial (TR). E, apesar da tendência de queda da Selic, o impacto sobre as prestações da casa própria para a classe média não deverá ser sentido tão cedo. Isso porque a TR tem um redutor que é acionado, automaticamente, a cada variação dos juros básicos, atenuando pressões, tanto para cima quanto para baixo.

Além do que, os bancos só estão repassando a queda de juros para empréstimos direcionados à baixa renda. Assim mesmo para financiamentos novos (de imóveis no valor de até R$150 mil). E nem fazem isso por causa da queda da Selic, mas devido a medidas de incentivo ao setor tomadas recentemente pelo governo.

¿ Para que as prestações da casa própria para a classe média baixassem seria preciso que os bancos reduzissem a parte prefixada de seus juros ¿ diz o economista Luiz Carlos Ewald.

ABMM: migração seria alternativa

Décio Tenerello, presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), lembra que a TR é calculada pela média dos juros dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) negociados pelos maiores bancos do país. E que, caindo a taxa do governo, até caem os CDBs e a TR. Mas num ritmo lento. Bem menor do que no passado:

¿ De qualquer forma, mantendo-se estável num patamar de 2,5%, a TR é interessante. Afinal, numa operação com 12% mais TR, o tomador paga menos que a taxa básica de juros.

No caso de quem vai comprar imóvel até R$150 mil, os bancos estão oferecendo juros entre 8% e 11% ao ano, sendo que alguns deixam a TR de fora. Assim, para esta faixa de renda, diz o diretor da Associação Brasileira de Moradores e Mutuários (ABMM), Paulo Zancaneli, seria caso até de pensar em migração de financiamento:

¿ Como juros mais atraentes valem para quem vai contrair um financiamento imobiliário daqui para frente, os mutuários com contratos anteriores devem procurar seu agente financeiro para se informar sobre a possibilidade de migrar para essas modalidades. Afinal, é justo que eles também se beneficiem das novas condições.

Medidas levam a forte crescimento

Fernando Magesty Silveira, superintendente de Planejamento Financeiro da Caixa Econômica Federal (CEF), explica que um mecanismo criado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é o principal motivador da redução dos juros no setor imobiliário para a baixa renda:

¿ O CMN estabeleceu que, ao aplicarem a parcela da poupança exigida pelo governo em financiamentos da casa própria, os bancos podem adotar um fator multiplicador na declaração de crédito, se cobrarem taxas mais baixas em empréstimos para compra de imóvel no valor de até R$150 mil.

Graças a essas medidas, em fevereiro os empréstimos cresceram 99,5%, em relação a igual período de 2005. Foram emprestados R$478,2 milhões, contra R$239,7 milhões. No total do ano passado foram 66 mil imóveis, e a previsão para 2006 é algo entre 70 mil e 75 mil.

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