Título: A SOLIDÃO DE LULA
Autor: Ilimar Franco e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 26/03/2006, O País, p. 3

Possível saída de Palocci agrava quadro da demissão de ministros que disputarão eleição

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva vai partir para a campanha da reeleição muito mais sozinho do que jamais imaginou. Ele pode perder seus principais articuladores políticos esta semana, com o fim do prazo de desincompatibilização para os ministros que vão disputar as eleições de outubro e, sobretudo, por causa do desfecho da crise que atingiu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Além de ficar sem o ministro encarregado da articulação política, Jaques Wagner, candidato ao governo da Bahia, o presidente ficará sem anteparo diante dos ataques da oposição caso se confirme a possibilidade de Palocci deixar o governo por causa de suas ligações com a "República de Ribeirão Preto".

A possível saída de Palocci, admitida por dois auxiliares do presidente na sexta-feira, criaria um vazio político, já que o titular da Fazenda sempre atuou também nessa área.

¿ Lula vai ter que ser o seu próprio articulador na campanha da reeleição ¿ diz um ministro próximo ao presidente.

Palocci, se sair da Fazenda esta semana, seria candidato a deputado federal por São Paulo com boas perspectivas de eleição. Poderia até participar da coordenação da campanha de Lula. Mas já não seria o homem forte de seu governo, nem o interlocutor junto ao mercado e ao empresariado na campanha.

Por outro lado, se o ministro da Fazenda permanecer no cargo ¿ hipótese ainda não descartada no Planalto ¿ dificilmente terá a força de antes para desempenhar papel importante na campanha. Enfraquecido pelas denúncias e agora alvo da oposição, que passou a pedir sua cabeça todos os dias, terá que "mergulhar" para se recuperar do desgaste.

A saída de Jaques Wagner dá a Lula um palanque necessário na Bahia, mas esvazia um gabinete fundamental do Planalto, o de articulador político. E Lula não tem tantas opções para preenchê-lo, já que boa parte dos políticos que gostaria de convidar está em campanha eleitoral. É o caso, por exemplo, de Jorge Viana e Marcelo Déda, dois interlocutores freqüentes do presidente. Um outro nome que esteve cotado, o do ex-ministro Tarso Genro, acabou queimado pelas divergências públicas com José Dirceu ano passado. Deve ir para a pasta da Defesa.

PT só terá dez palanques próprios nos estados

Depois de quatro anos no poder, os petistas terão dez palanques próprios nos estados, com candidatos que consideram competitivos para governador. Entre esses estão ex-ministros e ministros, que saem esta semana. Mas muitos concorrem em situação adversa, como é o caso de Jaques Wagner na Bahia, do ex-ministro da Saúde Humberto Costa em Pernambuco, e do secretário da Pesca, José Fritsh, em Santa Catarina.

O fato de integrar o governo Lula não resultou em favoritismo nas campanhas estaduais para o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz (PCdoB), no Distrito Federal, e para o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco. Mas a direção do PT está otimista.

¿ Vários candidatos do PT ou aliados têm chances fortes. Podemos ampliar nossa presença nos governos estaduais. O presidente puxa votos. E já acertamos que nos estados onde houver mais de um candidato que apóie o presidente, ele não vai privilegiar a candidatura do PT. Vai fazer suas atividades de campanha e convidar os candidatos a governador ¿ diz o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

O presidente Lula lidera as pesquisas de intenções de voto, mas apenas três petistas são favoritos nos estados: Marcelo Déda (SE), Wellington Dias (PI) e Arnóbio de Almeida, o Binho (AC). O PMDB, que comanda os ministérios da Saúde e das Comunicações, é o que tem mais candidaturas competitivas, em 13 estados.

Até mesmo a oposição entra na campanha com melhores perspectivas, com oito fortes candidaturas do PSDB e cinco do PFL. Outros partidos que se afastaram do governo Lula também têm boas possibilidades de vitória. É o caso do PPS, com três candidaturas competitivas, e do PDT, do PTB e do PP, cada um com duas.

As pesquisas mostram ainda que os petistas estão atrás nos três principais colégios eleitorais. O PSDB é o favorito em São Paulo, com a possível candidatura do prefeito José Serra, e em Minas, com o governador Aécio Neves. O PMDB está melhor no Rio, com Sérgio Cabral Filho.

O poder de fogo do PFL, que tem só dois governos (BA e SE), também deve aumentar caso se confirme seu favoritismo em Pernambuco, com Mendonça Filho; no Maranhão, com a senadora Roseana Sarney; e no Distrito Federal, com a candidatura de José Roberto Arruda.

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