Título: PARA CRESCER
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Fonte: O Globo, 26/03/2006, Opinião, p. 6

OBrasil continua a apresentar superávit em suas contas externas e isso tem se refletido positivamente nos índices que avaliam o risco que o país pode representar para investidores em moeda estrangeira. Há poucos dias o Tesouro Nacional reabriu no exterior a emissão de títulos com resgate previsto para daqui a trinta anos e a procura correspondeu a quatro vezes o valor da oferta. A taxa de juros oferecida aos investidores foi a mais baixa desde a crise de 1982.

Empresas privadas também têm se beneficiado dessa situação favorável e vêm substituindo endividamento caro e de curto prazo por um perfil de dívida alongado e mais barato. O mercado financeiro internacional atravessa um momento de grande liquidez, com muitos recursos disponíveis para aplicações em títulos ou concessão de empréstimos, mas o Brasil não teria chegado a essa situação confortável nas contas externas ¿ só em janeiro, um superávit de US$725 milhões em contas correntes ¿ se não tivesse méritos próprios.

O saldo registrado pela balança comercial do país, decorrente do espetacular avanço das exportações e de investimentos que na prática proporcionaram considerável economia nas importações (petróleo, por exemplo), tem superado com folga o déficit nos serviços, incluindo o pagamento de juros e a remessa de lucros pelas empresas estrangeiras que aqui se instalaram. A essa folga somam-se as inversões de capital, cuja previsão é de que se situem acima de US$15 bilhões este ano.

As autoridades econômicas têm aproveitado esse excedente para resgatar parte da dívida pública externa ou substituir papéis por outros menos onerosos, o que deve contribuir para que o país diminua suas necessidades de financiamento externo no futuro.

O excedente em moeda estrangeira provocou uma natural valorização do real, e desse modo o câmbio tem facilitado o combate à inflação. Daí ser unânime no mercado a expectativa de que as taxas de juros serão reduzidas este ano para o patamar mais baixo desde o lançamento do real, o que significará alívio para as finanças públicas e liberação de poupança, necessária ao financiamento de novos investimentos, sem os quais a economia brasileira não crescerá vigorosamente.