Título: O CASTIGO PARA A TRAIÇÃO É A PENA DE MORTE
Autor: Bernardo Mello Franco
Fonte: O Globo, 26/03/2006, Rio, p. 31

Ex-namoradas de traficantes somam 41% dos inscritos no programa de proteção

Mesmo não ocupando posições de comando na hierarquia do tráfico, meninas de 12 a 18 anos somam 41% dos refugiados pelo Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) no estado, de março a dezembro do ano passado. Os problemas começam no envolvimento dessas adolescentes com traficantes que atuam nas comunidades. Depois de romper o namoro, muitas passam a ser perseguidas por supostas traições aos bandidos.

¿ Na lei do tráfico, a infidelidade é punida com a morte ¿ diz uma das coordenadora do programa.

Outras jovens são condenadas apenas por saberem demais. Segundo o juiz Guaraci Vianna, o fim do relacionamento transforma as meninas, aos olhos dos bandidos, em potenciais delatoras à disposição da polícia ou de quadrilhas rivais:

¿ Elas convivem de perto com o crime, ajudam na contabilidade e conhecem a rotina dos chefes da boca-de-fumo. Por isso, tornam-se o elo mais vulnerável da cadeia.

O ciúme foi suficiente para sentenciar à morte a adolescente Y., de 14 anos. Moradora de uma favela na Zona Oeste, ela fugiu de casa para morar com um dos chefes do tráfico da área. Segundo um assistente social, seu destino foi selado quando traiu o rapaz, de 19 anos, com outro morador da comunidade. Protegida num abrigo da Zona Norte, ela se apavora ao lembrar da tortura psicológica sofrida no morro.

¿ Ele me batia e dizia que se eu não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém. Quando disse que não queria voltar, ele começou a mandar recados e fazer ameaças ¿ conta.

Antes de entrar para o programa, há duas semanas, ela passou um mês numa clínica para se livrar da dependência de crack. Ela perdeu o pai aos 9 anos. A mãe, faxineira, não quis entrar no PPCAAM para manter o emprego e cuidar de outros dois filhos pequenos.

¿ Não posso sair do abrigo, mas ela vem me visitar no fim de semana ¿ conta a jovem, que quer voltar à 6ª série do ensino fundamental e sonha em se formar em medicina