Título: Campanha, com Duda, custará R$ 36 milhões
Autor: Mariza Louven, Ramona Ordoñez e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 26/03/2006, Economia, p. 40

Montante é maior que o destinado pelo governo a programas como o de proteção às crianças vítimas de exploração sexual

RIO e BRASÍLIA. Envolta em mistério, a campanha produzida pelas agências F/Nazca S&S Publicidade, Duda Mendonça e Quê para anunciar a auto-suficiência mostrará, didaticamente, que atingir a autonomia na produção de petróleo é muito mais do que um esforço para baixar os preços dos combustíveis. A campanha oficial, orçada em R$36 milhões, será deflagrada no feriado de 21 de abril (Tiradentes) e um dos seus executores é o publicitário Duda Mendonça, que confessou, na CPI dos Correios, ter recebido R$10,5 milhões numa conta no exterior do esquema do empresário Marcos Valério.

A publicidade vai ao ar paralelamente à entrada em operação da plataforma P-50, ancorada na Bacia de Campos.

Verba é maior do que a de restaurante popular

O valor da campanha é maior que o montante destinado no ano passado pelo governo ao programa de proteção social às crianças e aos adolescentes vítimas de violência, abuso e exploração sexual e suas famílias. No programa foram investidos R$35,2 milhões, embora o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha posto o combate ao abuso e à exploração sexual de menores como uma das prioridades do seu governo.

Outro programa prioritário, que é a do apoio à instalação de restaurantes populares públicos, recebeu R$34,7 milhões em 2005. Já para o programa de Apoio à Pesquisa e à Inovação em Arranjos Produtivos Locais, que garante incentivos a micro e pequenas empresas, foram R$35,7 milhões em 2005.

Outro exemplo de ação prioritária que recebeu quase o mesmo montante de recursos do Orçamento que a campanha da estatal é o programa de apoio à implantação, ampliação ou melhoria de sistemas públicos de abastecimento de água em municípios integrantes de regiões metropolitanas e regiões integradas de desenvolvimento econômico para prevenção e controle de doenças. Esse programa recebeu R$36,7 milhões no ano passado. Os dados foram levantados pela Consultoria de Orçamento da Liderança do PSDB na Câmara.

A campanha já tem data marcada para ser encerrada, se a Petrobras seguir as orientações de publicidade da Secretaria Geral da Presidência da República. A Lei Eleitoral estabelece restrições e regras para o período que antecede o pleito, de 1º de julho a 29 de outubro até a proclamação, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos eleitos para presidente e vice-presidente da República. Nos três meses que antecedem as eleições, é proibida publicidade institucional no governo.

A Petrobras também foi notificada, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a prestar informações sobre a campanha da auto-suficiência. Os ministros do TCU decidiram, por unanimidade, fazer uma devassa na campanha para verificar se há caráter eleitoreiro.

O órgão solicitou documentos e informações à Petrobras, inclusive sobre se o presidente Lula participará da propaganda e de que forma. O TCU informa, entretanto, que o pedido de informações tem o objetivo de verificar se há algum tipo de desvio de conduta ou improbidade administrativa, mas que em princípio não impede a veiculação das peças.

O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, garantiu que a campanha está sendo feita dentro da legalidade e informa que a estatal prestará todas as informações ao TCU.

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