Título: REVOLUÇÃO LARANJA PODE ESMAECER NAS URNAS
Autor: Andrew Osborn
Fonte: O Globo, 26/03/2006, O Mundo, p. 42

Barrado do poder por revolta popular, Yanukovich se torna figura principal em eleição na Ucrânia

KIEV. O ¿pateta russo¿ que perdeu espetacularmente a Revolução Laranja da Ucrânia e viu seu sonho de se tornar presidente despedaçado por centenas de milhares de manifestantes nas ruas protagonizou um retorno incrível que poderá dar a seu partido uma vitória nas eleições de hoje.

Numa improvável reviravolta do destino, o Partido das Regiões, de Viktor Yanukovich, é cotado para receber mais votos do que qualquer outro.

Em dezembro de 2004, Yanukovich parecia um homem alquebrado que fora derrotado pela marcha da democracia e pela moda política do momento: as revoluções do veludo. Os chefes de sua campanha foram denunciados como fraudadores eleitorais que tentaram roubar a votação a seu favor e ele foi denunciado como marionete do presidente Vladimir Putin.

Partido deve ganhar mais de 30% dos votos

O herói da revolução, Viktor Yushchenko, foi aclamado como o campeão pró-Ocidente da justiça e seguiu adiante para se tornar presidente. Parecia inconcebível que Yanukovich fosse algum dia se candidatar mais uma vez a governar a Ucrânia. Imagens suas foram queimadas nas ruas, sua ficha criminal na juventude foi levantada e houve pedidos para que ele fosse preso.

Mas se uma semana é um tempo longo demais em política, um ano e três meses parecem ser uma eternidade. Anteontem, seguidores de Yanukovich se concentraram na praça central de Kiev para cantar seu nome enquanto ele lhes prometia vitória depois que uma pesquisa de opinião previu que seu partido ganharia mais de 30% dos votos. A mesma pesquisa deu ao partido Nossa Ucrânia, de Yushchenko, cerca de 17% dos votos.

Não importa o quão bem vá nas urnas, Yanukovich, de 55 anos, não se tornará presidente da Ucrânia porque as eleições são parlamentares e não presidenciais. Mas seu retorno ao eixo principal de vida política pode lhe dar um papel importante na formação de um novo governo e na designação de um primeiro-ministro, porque é o novo Parlamento e não o presidente que vai escolher quem vai ocupar o posto.

Premier demitida diz não guardar mágoas

Talvez ainda mais significativo, a improvável ressurreição política de Yanukovich mostra como Yushchenko e sua equipe laranja decepcionaram, e como foi prejudicial um racha no coração do time revolucionário. Em setembro, Yushchenko demitiu todo o governo, incluindo sua primeira-ministra e heroína da Revolução Laranja, a carismática Yulia Tymoshenko. Yushchenko citou a luta interna no Gabinete, choques de personalidade e corrupção. Tymoshenko, chamada por seus fãs de Princesa Laranja e Joana d¿Arc da Ucrânia, ficou arrasada. A glamourosa política de 45 anos está buscando seu próprio retorno nas eleições de hoje, que ela está disputando sob o estandarte de próprio movimento político, o Bloco de Yulia.

As previsões são de que seu partido ganhe aproximadamente o mesmo número de votos que o de Yushchenko e sua esperança é de que ele a nomeie primeira-ministra de novo, e que a Revolução Laranja volte aos trilhos.

Se Tymoshenko e Yushchenko se juntarem, ela acredita que eles serão capazes de impedir que o ressurgente Yanukovich tenha muita influência. Ela insiste não ter sequer uma palavra ruim para dizer sobre o homem que a demitiu, o presidente Yushchenko.

¿ Nosso apoio ao presidente está garantido porque fizemos muito para torná-lo presidente ¿ diz ela. ¿ Gostaria de voltar ao poder para reforçar a posição dele.

Embora Tymoshenko admita que sua Revolução Laranja decepcionou muitos, ela afirma com paixão que o movimento mudou a Ucrânia irremediavelmente para melhor. Se voltar ao poder, ela promete acabar com os oligarcas e com os funcionários inescrupulosos que não conseguiu em sua primeira vez no governo.