Título: Palocci resiste
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 27/03/2006, O GLOBO, p. 2

Apesar de toda a pressão, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não deve deixar o cargo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais colaboradores acreditam que sua saída traria um desgaste ainda maior para o governo e seria transformada num troféu pela oposição. Os integrantes do governo asseguram que somente um fato concreto e definitivo mudaria a atual disposição.

Na avaliação governista o ministro manteve sua credibilidade junto aos agentes econômicos. Esses não estariam tão interessados na sua vida pessoal. Um assessor do presidente lembrou que as investigações da CPI dos Correios não comprovaram irregularidades cometidas na gestão do Ministério da Fazenda. Nessas circunstâncias, comentou, oferecer a cabeça de Palocci seria o mesmo que bater o bolo da oposição. Embora alguns aliados importantes do governo digam que Palocci deveria reconhecer que mentiu sobre o grau de intimidade que tinha com a ¿turma de Ribeirão Preto¿ e desculpar-se.

Os membros mais experientes da oposição no Congresso também apostam na permanência de Palocci. Eles elogiam seu desempenho na pasta e argumentam que demiti-lo seria mais desgastante do que mantê-lo. Reconhecem que Palocci não teve envolvimento com as irregularidades nem com os petistas que operaram o valerioduto. E alegam que a substituição de Palocci é uma operação delicada que deve ser evitada ao máximo, pois o presidente Lula teria que encontrar um substituto que agradasse o mercado financeiro e também o partido. Uma equação difícil.

Mas todos, governistas e oposicionistas, reconhecem que a situação pode mudar quando estiver concluída a investigação da Polícia Federal sobre a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos. O envolvimento no episódio de assessores do ministro Antonio Palocci o colocarão numa situação delicada, pois nesse caso prevalecerá a versão, real ou não, de que a ordem partiu do próprio ministro. A postura da direção da Caixa Econômica Federal, criando obstáculos à investigação, aumentam a expectativa na oposição de que há uma ligação entre a violação do sigilo e a Fazenda.

Mas mesmo que a oposição não consiga seu objetivo máximo, o de derrubar Palocci, já obteve o mínimo. O ministro teve sua vida pessoal exposta em praça pública. É visível seu abatimento e que já não tem o mesmo élan.