Título: Dia decisivo para Palocci
Autor: Adriana Vasconcelos, Diana Fernandes ,Geralda Doca
Fonte: O Globo, 27/03/2006, O País, p. 3

Depoimento de presidente da Caixa pode determinar permanência de ministro no cargo

Oestino do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deverá ser selado ainda hoje, após o depoimento que o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, prestará às 15h na sede da Polícia Federal. A expectativa no governo e no PT é a de que Mattoso assuma, como presidente da instituição, a responsabilidade pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que contradisse Palocci ao revelar que o ministro freqüentava a casa em Brasília de seus ex-assessores de Ribeirão Preto acusados de corrupção.

Já a Polícia Federal espera que Mattoso confirme informações do depoimento do gerente da Caixa Jeter Ribeiro de Souza, prestado sexta-feira à noite. Além da vice-presidente de Tecnologia, Clarice Coppetti, que prestará depoimento amanhã na CPI dos Bingos, a PF teria chegado ao nome de outras duas funcionárias e ao do vice-presidente de Logística e Gestão de Pessoas, Carlos Alberto Cotta, que exerce o cargo por indicação política do PTB. Quando Roberto Jefferson rompeu com o governo Lula, ele deveria ter saído do cargo, mas preferiu sair do partido, passando a ser apadrinhado pelo ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, mineiro como ele.

Mattoso, que costuma despachar toda segunda-feira na sede da Caixa em São Paulo, antecipou para ontem à tarde seu retorno a Brasília, onde deveria se encontrar à noite com auxiliares do governo. Caso não seja possível isentar Palocci, a troca de comando no Ministério da Fazenda já é considerada inevitável até mesmo por aqueles que ainda defendem o ministro.

O presidente da Caixa, que já deixou de comparecer à convocação da Polícia Federal na semana passada, confirmou ao GLOBO, ao chegar ontem a Brasília, que prestará depoimento hoje. Mas se recusou a responder a perguntas, afirmando que dará suas explicações ao delegado Rodrigo Gomes, que está investigando o caso no inquérito da PF. Perguntado se iria assumir a responsabilidade pela quebra do sigilo, Mattoso respondeu:

¿ Amanhã (hoje), darei minhas declarações à Polícia Federal. No momento oportuno, eu falarei.

Lula ainda não teria tomado decisão

Pessoas ligadas a Mattoso dizem que dificilmente ele irá para o sacrifício. É uma pessoa que costuma brigar pela sua carreira, resumem amigos próximos.

Até ontem à noite, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou para compromissos em Curitiba, ministros garantiam que o presidente ainda não havia batido o martelo sobre a saída de Palocci, mas que esperava para hoje o desenlace do caso, com a indicação do responsável pela quebra ilegal do sigilo do caseiro. Sigilo que agora foi quebrado legalmente, por ordem da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília. Hoje mesmo a Caixa deve remeter os dados oficiais à Justiça.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, também retornou ontem à noite para Brasília e repetiu o discurso da semana passada:

¿ Há um problema concreto, que é uma irregularidade (a quebra ilegal do sigilo), e não podemos conviver com esse erro. Tem que apurar e punir. A investigação é que vai indicar o culpado, quem mandou fazer ¿ disse Wagner.

A possível demissão de Palocci já deflagrou uma série de especulações sobre seu sucessor. Dentro do PT, os nomes mais cotados são o do senador Aloizio Mercadante (SP) e o do presidente do BNDES, Guido Mantega. Mas fora do governo Mantega leva vantagem, porque Mercadante ainda assusta o mercado.

Mercadante, que tem audiência hoje com o presidente Lula, negou que tenha sido sondado para o posto e reiterou sua intenção de disputar o governo de São Paulo:

¿ O presidente tem reiterado seu apoio ao ministro Palocci. Sempre coloquei meu mandato e militância a serviço do PT e do presidente Lula. A função que ele me confiou foi a de ser líder do governo. Minha intenção este ano é disputar as prévias para o governo de São Paulo ¿ disse.

O desgaste do governo preocupa o PT.

¿ A situação é preocupante. Tanto a permanência como a saída do ministro Palocci tem vantagens e riscos. O presidente precisa de muita tranqüilidade para tomar sua decisão. Abril será um mês importante, com anúncios como o da conquista da auto-suficiência na produção de petróleo, e o ideal é que isso não seja ofuscado por essa onda de denúncias ¿ ponderou o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.