Título: SEM SINTONIA
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 27/03/2006, Economia, p. 15

O mercado financeiro americano e Ben Bernanke, que assumiu a presidência do banco central dos Estados Unidos, ainda não estão se entendendo, e isso tem derrubado os preços das ações e títulos por lá. Por tabela, os mercados no Brasil também têm oscilado muito. Quem estava acostumado com Alan Greenspan, agora se confunde com o tom de seu sucessor, Bernanke.

Greenspan sempre teve forte influência sobre os demais diretores do Federal Reserve e assim suas palavras eram interpretadas como o caminho que o banco central americano pretendia seguir. Bernanke estreou há pouco na presidência do Fed e não teve tempo de conquistar naturalmente essa liderança. Dessa forma, costuma falar em seu nome pessoal, o que deixa o mercado confuso.

Quem acreditava que a taxa básica de juros nos Estados Unidos iria subir para 5% ao ano e estacionar nesse patamar agora aposta em 5,5%, por conta dessa falta de sintonia.

Esse pequeno estresse deve provocar alguma agitação e oscilações nos preços das ações de mais títulos, mas não o suficiente para causar uma crise por aqui. Ao menos enquanto continuar sobrando dólares no mercado.

A propósito, amanhã o equivalente americano ao nosso Copom se reúne em Washington para decidir a taxa de juros básica dos Estados Unidos.

Indiretamente, o Brasil está sendo muito atingido pela gripe aviária, por causa da queda vertiginosa do consumo de carne de frango na Europa. Sem ter para quem vender no seu próprio mercado, os produtores europeus se voltaram para os países árabes, que aproveitaram a super-oferta para jogar os preços no chão. Como tradicional fornecedor dos mercados árabes (os frigoríficos são obrigados a seguir um ritual de abate definido pelas leis da religião muçulmana), o Brasil está vendo a sua receita com exportações de carne de frango encolher assustadoramente.

A queda do consumo na Europa ocorre com certo estímulo não declarado das autoridades locais, que imaginam ser possível evitar a disseminação da gripe aviária reduzindo-se significativamente o número de aves em cativeiro nas fazendas. A doença só foi transmitida para seres humanos até hoje por contato com aves doentes nas áreas de criação. Ninguém adoeceu por comer carne de frango cozida ou assada.

Mas, por conta dessa retração de consumo no mercado europeu, os preços caíram no Brasil, e no interior de São Paulo já há quem venda frango vivo por valores que correspondem a 40% do custo de produção. Nesse ritmo, em pouco tempo a super-oferta tende a se transformar em uma super-escassez, já que a produção vai despencar.

Curiosamente, as carnes bovina e suína não foram ainda favorecidas por essa situação do mercado de frango. É que também há, no momento, uma grande oferta desses produtos no mercado internacional.

É a chamada fome zero em decorrência de excedentes na produção de proteína animal.

É de tirar o chapéu, por ser altruísta, inteligente e eficaz, a iniciativa de criação de fundos de investimentos, formado por doações, cujos rendimentos se destinam a apoiar projetos de caráter social. Geraldo Jordão Pereira, da editora Sextante, deu o exemplo. O fundo será gerido pela administradora de recursos que tem Armínio Fraga Neto, ex-presidente do Banco Central, como sócio. Os rendimentos serão destinados a projetos sociais na Zona Oeste, devidamente selecionados pelo Instituto Rio, instituição filantrópica, sem fins lucrativos.

No ano passado, o Instituto Rio apoiou com R$45 mil vários pequenos projetos sociais e, ao longo deste ano, só com o reforço do novo fundo, poderá triplicar esse valor. O fundo permanente é um ovo de Colombo pois garante o custeio de projetos sociais por anos a fio, já que os recursos não se esgotam (embora inicialmente o orçamento não seja muito alto).

O Instituto Rio tem como meta criar pelo menos vinte outros fundos permanentes. Os doadores podem se beneficiar de incentivos fiscais previstos na lei e estão autorizados a divulgar essa participação até como instrumento de marketing corporativo. Muitas empresas ou pessoas físicas querem apoiar projetos sociais, mas esbarram na falta de informação segura sobre a seriedade de cada um deles. O Instituto Rio faz essa triagem, separando o joio do trigo.

Assim, a fórmula conjuga responsabilidade social com visão empresarial, e tem tudo para dar certo.

O advogado Gabriel Leonardos, especializado em propriedade industrial, argumenta que a adesão do Brasil ao Protocolo de Madri (pelo qual o registro de uma marca em um centro internacional passa a valer para todas as nações participantes) seria hoje prejudicial ao país, por conta dos prazos exigidos para cumprimento das normas do acordo. Se o INPI, órgão responsável no Brasil pelo registro de marcas e patentes, não se pronunciar sobre um pedido internacional em 18 meses, ele se tornará válido por decurso de prazo. Segundo o advogado, somente as empresas estrangeiras se aproveitariam disso, já que as companhias brasileiras continuariam esperando por seis anos ¿ prazo que o INPI tem levado para dar uma palavra final nos processos ¿ até conseguirem registrar suas marcas aqui.