Título: Melhorar refino do petróleo é desafio mundial
Autor: paulo Thiago de Mello
Fonte: O Globo, 27/03/2006, Economia, p. 17
Estudos revelam que capacidade de produção pouco mudou na última década e que alta de preços é conjuntural
O consistente aumento das cotações de petróleo a partir de 2003 se tornou um dos pouco elementos de desassossego para os governos em relação à atual conjuntura mundial. O assombro dos mercados é ainda maior, pois uma das razões mais citadas para explicar a curva de alta dos preços seria um possível esgotamento das reservas mundiais da commodity, mal para o qual haveria pouca margem de conserto.
A relação entre oferta e demanda continua um elemento de preocupação no mercado, o que torna qualquer notícia referente ao delicado equilíbrio entre essas duas forças um fator de volatilidade de preços. Até mesmo as interrupções programadas de várias refinarias, comuns neste período do ano, foram motivo de pressão sobre as cotações.
Nesse quadro, especialistas alertam para a necessidade de melhorar a capacidade do refino no mundo. A Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês), mantida por 26 países e dedicada ao estudo de soluções para o setor energético, avalia que boa parte dos problemas na oferta do produto hoje diz respeito à técnica empregada no refino. Segundo a IEA, a questão tem sido fundamental no aumento de preços desde meados de 2003, à medida que as melhorias no refino não conseguiram suprir as defasagens causadas por interrupções na produção.
Por trás da alta de preços, problemas pontuais
O fim das reservas, portanto, não é mais um fantasma tão assustador. Relatórios mais recentes, como os do Serviço de Pesquisa do Congresso dos Estados Unidos, feitos por encomenda de parlamentares americanos, mostram que a força por trás do aumento das cotações tem mais a ver com questões pontuais e cíclicas do que com o fim dos mananciais de petróleo. Embora, a longo prazo, o problema das reservas seja uma questão no horizonte das preocupações.
A relação entre o volume de reservas existente e a capacidade de transformá-las em petróleo é a medida considerada pelos especialistas como indicativa da capacidade mundial de manter a produção atual. Segundo o Serviço de Pesquisa do Congresso, na última década houve poucas mudanças nessa relação. A alta de preços seria, então, explicada por um conjunto de fatores que vêm funcionando como motor de propulsão.
Em primeiro lugar, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas num país) de várias nações neste período de bonança da economia mundial e a desvalorização do dólar no mercado internacional fizeram aumentar a demanda por petróleo. Isto ocorreu não apenas nos países ricos ¿ como os EUA, maior consumidor do mundo ¿ mas também entre os emergentes, sobretudo a China.
Soma-se a isso, a política de controle de preços da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e os baixos patamares dos estoques americanos de petróleo e gasolina.
Além disso, fatores conjunturais e geopolíticos estimularam ações especulativas nas bolsas de Nova York e de Londres: entre eles estão a tumultuada relação entre o governo russo e a empresa petrolífera Yukos; os rigorosos invernos que castigaram o hemisfério Norte nos últimos anos; a crise política na Nigéria; os embates entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e seu colega americano, George W. Bush; a guerra no Iraque; o programa nuclear iraniano e o terrorismo.
Segundo a Bloomberg News, a oferta total de petróleo no fim de fevereiro estava em 85,4 milhões de barris diários, levemente abaixo da demanda mundial, de 85,8 milhões de barris diários. Essa diferença se mantém negativa há três meses.
Segundo a IEA, os preços altos do petróleo também refletem o desejo do mercado de um equilíbrio maior entre oferta e demanda. O instituto prevê que este ano haverá uma leve melhora neste perfil, devido a ganhos de produtividade e uma tendência de queda na demanda.
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