Título: `Olmert será pior do que Sharon¿
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 27/03/2006, O Mundo, p. 18

O ministro dos Transportes do governo Hamas, Abdel Rahman Zidan, diz que a nova ANP está disposta a solucionar o conflito com Israel. Mas teme que as eleições levem ao poder um governo que mantenha a política de isolamento da ANP. Em entrevista ao GLOBO por telefone, ele afirma que ¿caso os planos sejam mantidos, Olmert será pior do que Sharon¿.

O premier indicado Ismayil Haniyeh dirigiu-se ontem pela primeira vez ao público israelense. Qual o significado do recado após meses de silêncio?

ABDEL RAHMAN ZIDAN: Não vamos interferir na política interna de Israel. A intenção foi chamar a atenção dos israelenses para eleger um governo que respeite os direitos do povo palestino e que negocie a criação de um Estado independente o mais rápido possível. Ainda não podemos reconhecer o Estado sionista porque eles não admitem ter roubado terras palestinas. Queremos resolver anos de conflito e acabar com a violência, mas é preciso que a nova administração israelense reconheça o direito de existência e autonomia dos palestinos.

Analistas dizem que foi um pedido de apoio em meio à pressão sofrida pelo Hamas às vésperas da posse de um gabinete isolado. O Hamas teme governar só?

ZIDAN: Não temos medo. O Hamas não vai governar sozinho, pois há outros partidos que mesmo na oposição apoiarão o governo. Não montamos uma coalizão abrangente devido à pressão dos EUA.

Pesquisas indicam que o Kadima lidera a corrida eleitoral e Ehud Olmert deve ser confirmado novo primeiro-ministro de Israel. O que o Hamas espera?

ZIDAN: Não gosto da articulação que vejo do lado israelense e as promessas de isolar a ANP e promover retiradas unilaterais. Queremos dialogar, pois as medidas unilaterais não pensam no sofrimento dos palestinos. Se levar adiante na Cisjordânia um plano como o de Gaza, Olmert será ainda pior que Sharon. Não gostamos de Sharon, mas admitimos que era um líder. Olmert quer segui-lo, mas não tem o poder nem a experiência de Sharon. Temo que na ânsia de seguir seus passos, abra um novo banho de sangue no Oriente Médio