Título: Mattoso diz à PF que entregou extrato a Palocci
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 5

Não fui responsável pelo vazamento da informação e estou convicto de que nenhum empregado deu causa à divulgação indevida¿

BRASÍLIA. O economista Jorge Mattoso deixou ontem a presidência da Caixa Econômica Federal, depois de afirmar em depoimento à Polícia Federal que entregou ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, cópia do extrato bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. A PF indiciou Mattoso por violação de sigilo. A polícia deve agora aprofundar as investigações para investigar o envolvimento de Palocci e de um assessor dele na divulgação do extrato do caseiro para a revista ¿Época¿.

No depoimento, Mattoso confessou que levou o extrato a Palocci no dia 16 deste mês, um dia antes das informações serem vazadas para a imprensa e divulgadas no site da revista Época. Na última semana, Mattoso manteve silêncio sobre o caso e se limitou a pedir abertura de sindicância ¿ o que só ocorreu no dia 21 ¿ para apurar o vazamento, episódio em que ele mesmo estava envolvido. Antes porém, a Caixa se encarregou de enviar ao Coaf pedido de investigação contra o caseiro Francenildo.

Em nota, Mattoso jura inocência

Mas em nota, o presidente da Caixa negou que tivesse cometido irregularidade. Ele alega que só passou os papéis contra o caseiro a Palocci porque o ministro da Fazenda era o superior hierárquico do Coaf e do Banco Central, órgãos que, em tese, teriam que investigar a vida financeira de Francenildo. ¿Comuniquei, também, o fato à autoridade superior à qual a Caixa encontra-se vinculada. Não fui o responsável pelo vazamento da informação e estou convicto de que nenhum empregado da Caixa deu causa à divulgação indevida, atuando nos estritos limites da legalidade¿, disse Mattoso.

Os argumentos do ex-presidente da Caixa não convenceram o delegado Rodrigo Gomes, que está à frente das investigações sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro. Ao fim do interrogatório, o delegado indiciou Mattoso por quebra de sigilo funcional com base nos artigos 325, do Código Penal, e 10 da Lei Complementar número 105. Pelo artigo 325, ¿revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo ou facilitar-lhe a revelação¿ pode ser punido com dois a seis anos de prisão e multa.

Na nota divulgada ontem, Mattoso justificou seu pedido de demissão: ¿Visando resguardar imagem institucional da Caixa, entendi por bem colocar meu cargo à disposição do Excelentíssimo Senhor presidente da República, na certeza de que, ao final, tudo será devidamente esclarecido¿. A decisão de afastamento de Palocci e Mattoso estava acertada desde quinta-feira, depois do recrudescimento da crise do caseiro, conforme informou o GLOBO no sábado.

Em menos de duas horas de depoimento, Mattoso descreveu detalhes da operação que acabou resultando na quebra do sigilo de Francenildo. Segundo a polícia, Mattoso foi alertado por técnicos da Caixa de movimentação financeira atípica na conta de Francenildo, que se tornara um personagem público depois de denunciar Palocci na CPI dos Bingos. A pedido de Mattoso, Ricardo Schumann, um de seus assessores diretos, providenciou imediatamente um extrato com toda a movimentação bancária do caseiro na noite de quinta-feira, momentos depois de receber as ordens do chefe.

Encontro de cinco minutos para entregar extrato

Com pressa para se desembaraçar da tarefa, Schuman levou o envelope com o extrato da conta do caseiro a Mattoso, depois do expediente, num restaurante em Brasília. No mesmo ritmo do assessor, Mattoso foi de carro até o Lago Sul e, num encontro de cinco minutos, entregou a Palocci o envelope-bomba.

A polícia também continua investigando a origem dos R$25 mil depositados na conta do caseiro desde o início deste ano. Antes do início da crise, parlamentares da base governista insinuaram que o caseiro teria recebido dinheiro para atacar Palocci na CPI dos Bingos. Na CPI, Francenildo disse que viu Palocci várias vezes na casa do lobby, mansão alugada por ex-assessores do ex- ministro para promover festas e supostamente fazer lobby em Brasília.