Título: ANALISTAS DESCARTAM MUDANÇAS NA ECONOMIA
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 8

Queda drástica dos juros, defendida por Mantega, é considerada improvável

Economistas, empresários e analistas de mercado não acreditam em alteração na política econômica com a troca no comando do Ministério da Fazenda. Mantega é considerado menos ortodoxo do que Palocci, mas os analistas não vêem espaço para mudanças na condução da economia em ano eleitoral.

Até mesmo a queda drástica da taxa de juros, defendida veementemente por Guido Mantega enquanto ele esteve na presidência do BNDES é considerada improvável. Para o economista Ricardo Carneiro, professor da Unicamp, Mantega poderá até acelerar a trajetória de queda na taxa básica de juros e limitar a queda do dólar. Mas não haverá alterações significativas:

¿ As mudanças, se existirem, serão marginais.

Carneiro critica a gestão do ex-ministro Palocci pelo seu excesso de ortodoxia, com juros altos, esforço fiscal elevado e apreciação cambial:

¿ Talvez essa tenha sido a mais ortodoxa das políticas econômicas já praticadas na história republicana do Brasil ¿ afirma. Não aproveitamos um contexto internacional favorável. O país poderia ter crescido mais.

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Carlos Fernando Gross, também não crê em mudanças profundas política econômica, mas não descarta velocidade maior no corte dos juros, justificada pela quedas na inflação.

¿ Mantega sempre foi homem de confiança do presidente. É uma cartada segura, usada também na saída de Carlos Lessa do BNDES. É possível que seja um ministro temporário, para cumprir a missão de levar a atual política econômica até o fim do mandato ¿ acrescentou o cientista político Marcelo Coutinho, do Observatório Político Sul-Americano do Iuperj.

Coutinho acredita que os acontecimentos recentes envolvendo o ministro possam ter atingido a imagem de Lula, justificando a troca ministerial.

O economista Aloisio Araújo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), espera que o novo ministro mantenha a espinha dorsal da política econômica: o ajuste fiscal.

¿ Palocci foi muito bem-sucedido em dissipar todas as dúvidas que haviam quando o governo Lula assumiu. O risco-Brasil caiu, a administração da dívida pública melhorou e a agenda microeconômica foi adiante ¿ diz Araújo.

O economista Paulo Vieira da Cunha, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, acredita que, com Mantega na Fazenda, as preocupações com um segundo governo Lula, até então fora do cenário, passam a fazer parte da equação político-econômica:

¿ Num ano eleitoral, pouco deve mudar na política monetária. No entanto, fica nebuloso o panorama para 2007. Se Lula for reeleito, como será a Fazenda de Mantega nos próximos quatro anos? Certamente menos ortodoxa que a de Palocci ¿ prevê.

Mas Cunha reconhece os avanços conseguidos na gestão Palocci:

¿ A menor vulnerabilidade fiscal, o aumento das reservas internacionais e da confiança dos investidores internacionais e uma balança comercial mais sólida não são conquistas políticas, mas sim econômicas, que se mantém com ou sem Palocci. Não há retrocesso.

José Alfredo Lamy, sócio da Cenário Investimentos, teme maior conservadorismo do Banco Central e um forte aumento dos gastos na Fazenda pós-Palocci.

¿ Quem dava sustentação à política econômica era Palocci, que sabia que gastos desenfreados poderiam pesar na gestão da política econômica.

Walter Molano, sócio do BCP Securities, banco de investimentos americano especializado em América Latina, lembra que Palocci mantinha uma boa comunicação com os mercados e esse será um dos grandes desafios de Mantega.

Já o ex-secretário de acompanhamento econômico Claudio Considera, hoje no Ibmec, acha que a opção Aloísio Mercadante seria um desastre. Mantega é a opção mais segura. Apaziguou o BNDES e deve manter a atual política, inclusive evitando mexer no Banco Central, prevê.