Título: BNDES E CAIXA AGORA FICARÃO COM TÉCNICOS
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 8A

Presidente procura evitar problemas causados pelo loteamento político de cargos públicos

BRASÍLIA. Escaldado pelos problemas provocados pelo loteamento político de cargos públicos na administração direta e nas estatais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou dar uma roupagem técnica na escolha dos novos nomes que vão comandar a Caixa Econômica Federal e o BNDES. Para o lugar de Guido Mantega no BNDES nomeou o economista Demian Fiocca, atual vice-presidente. Mas escolheu uma pessoa de confiança do PT, do governo e do próprio ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso para substituí-lo: Maria Fernanda Ramos Coelho, funcionária de carreira da Caixa há 22 anos, embora sem militância política, foi alçada à condição de primeira mulher a ocupar um cargo de diretoria pelas mãos de Mattoso. É a primeira mulher a assumir a presidência da Caixa.

Pernambucana, ocupava a Superintendência Nacional de Desenvolvimento e Estratégias Empresariais da Caixa, cargo diretamente subordinado à presidência da instituição. Ela foi nomeada para este cargo por Jorge Mattoso. Além disso, Maria Fernanda acumulava a função de presidente da diretoria-executiva e era substituta do chefe de gabinete, Luiz Phillipe Torelli, na ausência do titular.

Novo presidente do BNDES tem perfil discreto

Já o novo presidente do BNDES é um técnico que trabalhou no mercado financeiro antes de chegar ao governo. Originário da iniciativa privada, Demian Fiocca foi economista-chefe do HSBC e dirigiu a área de pesquisa econômicas do grupo espanhol Telefônica. Em 2003, foi convidado para integrar a equipe de Guido Mantega, no Ministério do Planejamento, assumindo o cargo de secretário de Assuntos Internacionais.

Em 2004, foi nomeado chefe da assessoria econômica do Ministério e teve como principal incumbência a elaboração e negociação no Congresso do projeto de Parcerias Público-Privadas (PPPs) ¿ um dos principais trabalhos de Mantega à frente da pasta.

Durante esse período, Fiocca aproximou-se do ministro ao ponto de se transformar no seu braço direito na transferência de Mantega para o BNDES. No banco, Fiocca desbancou o candidato natural à vice-presidência, que era o economista Antonio Barros de Castro, ex-presidente da instituição, também parte da assessoria do Planejamento.

De perfil discreto, a Fiocca cabia o acompanhamento e a execução dos projetos e programas da instituição, controlando todos os números do banco. Junto com Mantega, ele fez do BNDES o que o presidente Lula queria desde o início do seu governo: uma instituição voltada ao financiamento do setor produtivo, inclusive atendendo aos microempresários, sem a excessiva preocupação com o desempenho financeiro do BNDES, como no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Com a escolha de Maria Fernanda para a presidência da Caixa, indiretamente o presidente Lula deu uma demonstração de confiança e prestígio ao presidente demissionário Jorge Mattoso, que desencadeou a demissão do ministro Antonio Palocci com a confissão de que ele teria participado diretamente da quebra ilegal de sigilo do caseiro Francenildo Costa.

Lula teria optado por evitar mais desgastes

No domingo, embora alguns petistas considerassem que Mattoso acabaria assumindo toda a responsabilidade no episódio, o presidente Lula comentou com interlocutores que, depois de tantos desgastes, a melhor saída seria a verdade. Foi o que Mattoso fez no depoimento na Polícia Federal ontem à tarde.