Título: Mantega afirma: `Política econômica não muda¿
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 8A

Defensor da queda dos juros, ministro afirma que vai interagir com o Copom e lutará pelo crescimento do país

BRASÍLIA. Em seu primeiro pronunciamento como ministro da Fazenda, Guido Mantega assegurou ontem que a política econômica do governo não mudará. Segundo ele, ela não pertence a um ministro, mas ao presidente Lula, que é seu principal fiador.

¿ Antes que vocês me perguntem, quero me antecipar e dizer que a política econômica não mudará. A política econômica que nós estamos praticando não é do ministro Palocci, da ministra Dilma ou do ministro Paulo Bernardo. É a política econômica do presidente Lula. Ele é seu fiador ¿ disse Mantega.

Mantega, que já foi ministro do Planejamento do governo Lula e deixa a presidência do BNDES para assumir o novo cargo, destacou que a política também não deve mudar porque é a mais bem-sucedida dos últimos 15, 20 anos e está promovendo o crescimento da economia brasileira. Mantega destacou que o governo já conseguiu controlar a inflação, manter a responsabilidade fiscal e gerar 3,7 milhões de empregos em três anos. O ministro também manteve a previsão otimista para o crescimento da economia este ano:

¿ Teremos um ano proveitoso de crescimento, de 4% a 4,5% do PIB, que será o primeiro de uma série de vários anos de crescimento.

Diplomacia ao falar de juros

Mantega, que sempre foi um defensor de uma queda mais acentuada na taxa básica de juros, foi diplomático ao falar em mudança na atual orientação, que tem sido de uma redução lenta da Selic:

¿ Não fui para o Banco Central (que define a Selic), fui para a Fazenda. Mas minha orientação é de que o Brasil já conseguiu controlar a inflação e isso permite uma redução sistemática da taxa de juros. Evidentemente que isso é competência do Copom, mas agora como membro do Conselho Monetário Nacional (CMN), vou interagir com o Copom. Faremos esforço para que crescimento se torne desenvolvimento sustentável.

Mantega contestou a idéia de que a imagem do ministério da Fazenda foi afetada pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa:

¿ A imagem do Ministério da Fazenda é da política econômica, que foi muito eficiente e que conseguiu consertar vários desequilíbrios. A imagem que interessa é essa ¿ disse Mantega.

Superávit será mantido

O ministro também defendeu a manutenção da meta de superávit primário, atualmente em 4,25% do PIB. Esse percentual é considerado muito elevado e a rigidez da política fiscal da equipe econômica já chegou a ser criticada por vários integrantes do governo, incluindo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas Mantega destacou que a política de desenvolvimento do país passa pela necessidade de manter a atual meta:

¿ Como desenvolvimentista, pretendo cumprir a política de desenvolvimento do governo, que passa por fazer superávit primário e manter os investimentos sociais. O superávit primário é sagrado.

Mantega não descartou a possibilidade de fazer mudanças na equipe do Ministério da Fazenda.

¿ Em princípio, eu considero a equipe muito eficiente, mas não descarto mudanças ¿ disse Mantega.