Título: EM DIA NERVOSO, DÓLAR CHEGA A SUBIR MAIS DE 2%
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 9

Ritmo de alta desacelera à tarde e moeda fecha em R$2,171. Bolsa de São Paulo sobe 0,17%

O mercado financeiro brasileiro teve ontem um dos dias de maior nervosismo dos últimos meses. O pedido de demissão de Antonio Palocci chegou após o fechamento dos principais mercados, num dia marcado pela forte boataria e muita cautela por parte dos investidores. O dólar fechou em alta de 0,79%, cotado a R$2,171 para venda, próximo à mínima do dia de R$2,168. Após subir 3,5% durante o dia, o risco-Brasil, indicador da confiança dos estrangeiros no país, avançou 0,86%, para 234 pontos centesimais, e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em alta de 0,17%.

Além do Efeito Palocci, a expectativa em torno da primeira reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na gestão de Ben Bernanke causou nervosismo. Investidores aguardam as declarações do novo presidente do Fed sobre a trajetória dos juros. Se as taxas continuarem subindo, pode haver uma forte redução dos investimentos em países emergentes, como o Brasil.

Dólar chegou a ser negociado a R$2,20

O anúncio da saída de Palocci, por volta das 17h30m, confirmou os fortes rumores que circularam nos mercados. A especulação fez o dólar chegar a ser negociado a R$2,20, maior valor em quase dois meses. Devido à alta tensão no câmbio, o Banco Central (BC) não realizou o tradicional leilão de compra de dólares no mercado à vista, a exemplo do que já havia feito no início de março, também devido à alta volatilidade.

No pior momento do dia, a Bovespa chegou a cair 1,13% e o risco-país, a subir 3,5%. Na hora do anúncio, o mercado de câmbio já estava fechado e os negócios com títulos da dívida externa já haviam minguado, mas ainda faltava meia hora para o encerramento dos negócios na Bovespa.

Quando a notícia saiu, a Bolsa, que já havia parado de cair e subia 0,75%, reduziu os ganhos para 0,39%, para depois subir mais de 400 pontos em apenas 20 minutos, voltando aos 0,75%, para fechar em alta de 0,17%. Segundo analistas, após muita especulações sobre uma eventual saída de Palocci, a confirmação foi recebida com alívio:

¿ O mercado odeia incertezas. Na dúvida e em meio aos mais diferentes rumores, os investidores compram dólares e vendem ações, mas num cenário mais definido podem finalmente retomar as aplicações. Considerada a forte volatilidade dos negócios hoje (ontem), pode-se dizer que o mercado recebeu bem a saída de Palocci ¿ pondera Felipe Brandão, diretor de mercados emergentes da corretora Arkhe.

Mercado cobrará manutenção da política econômica

Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do banco ING, avalia que a entrada de Guido Mantega na Fazenda pode não ser bem recebida pelos investidores, que preferiam alguém com o perfil do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, na função. Ele, no entanto, também pediu desligamento do ministério no início da noite:

¿ O que os investidores querem ouvir é que, com ou sem Palocci, a política econômica permanece a mesma, com responsabilidade fiscal e comprometimento com as metas de inflação ¿ diz Vasarhelyi.

Para o economista Paulo Vieira da Cunha, professor da Universidade de Columbia, o cenário internacional positivo e de elevada liquidez tenderá a compensar os temores com as mudanças na Fazenda.