Título: Serenidade prevalece no mercado externo
Autor: José Meirelles Passos e Helena Celestino
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 12

Para FMI, reformas macroeconômicas e fiscais foram essenciais à estabilidade do país. Em Wall Street, calma

WASHINGTON e NOVA YORK. O pedido de demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi recebido com serenidade pela comunidade financeira internacional. Tanto as instituições multilaterais quanto as comerciais do setor ¿ inclusive as que classificam o crédito dos países ¿ não se abalaram com a notícia.

¿ Há, na verdade, é um certo alívio. O mercado esperava uma definição. Pior seria manter o suspense. Isso, sim, poderia desgastar a imagem do país ¿ disse ao GLOBO uma fonte da área econômica do governo dos EUA que supervisiona o setor.

O Departamento do Tesouro preferiu aguardar para emitir uma opinião oficial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi rápido. Menos de uma hora depois da renúncia, e minutos após a nomeação de Guido Mantega como substituto na Fazenda, o diretor-gerente da entidade emitiu nota carregada de elogios ao trabalho de Palocci.

¿Acabo de saber da renúncia do ministro Palocci. E gostaria de aproveitar esta oportunidade para enfatizar as realizações obtidas pelo Brasil sob o seu comando¿, diz a nota. Rodrigo De Rato disse que ¿as sólidas políticas macroeconômicas, apoiadas por passos para fortalecer a fundamental estrutura de tais políticas e instituições, e importantes reformas fiscais estruturais foram essenciais para o país atingir um bem-vindo grau de estabilidade econômica¿.

A agência de classificação de crédito Standard & Poor¿s, de Nova York, garantiu que a mudança não afetará a situação do Brasil, que está prestes a atingir a posição de ¿investment grade¿, que facilitará ao país obter créditos, com juros mais baixos, no mercado internacional.

¿ Temos uma visão ampla do Brasil e do seu governo. O ministro Palocci representa a prudência mas, em nossa opinião, esta é uma política do governo e não uma política pessoal de Palocci ¿ disse Lisa Schineller, diretora da S&P para a América Latina.

Wall Street só deve reagir hoje às mudanças.

¿ Acho que haverá uma volatilidade de curto prazo no preço do dólar, que pode ficar em torno de R$2,30 ¿ disse Nuno Câmera, o economista sênior para América Latina do Banco Dresdner.

No entanto, ninguém em espera grandes oscilações nos ativos financeiros a médio prazo. A análise é de que os fundamentos da economia brasileira continuam sólidos, o fluxo de dólares em direção ao país será mantido por conta das exportações em alta e existe uma confiança na condução da política monetária pela equipe do Banco Central.

¿ Guido Mantega no BNDES pode defender uma posição desenvolvimentista mas agora vai assumir as responsabilidades impostas pelo seu novo papel- disse o economista do Dresdner.