Título: DENÚNCIAS COMEÇARAM NO ESCÂNDALO WALDOMIRO
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 14

Buratti, ex-secretário de Palocci em Ribeirão Preto, iniciou a série de escândalos em 2004

O fio da meada dos escândalos que enredaram o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci é o caso Waldomiro Diniz, o ex-assessor do ex-ministro José Dirceu na Casa Civil que foi flagrado pedindo propina para um empresário de jogos, em fevereiro de 2004, e que também foi acusado de tentar obter vantagens na renovação do contrato da multinacional Gtech com a Caixa Econômica Federal (CEF) para a operação das loterias. Foram ex-dirigentes da Gtech, em depoimento à Polícia Federal em março de 2004, que introduziram o advogado Rogério Buratti na crise: ele teria sido indicado por Waldomiro como consultor para facilitar a renovação do contrato.

E Buratti, que foi secretário de Governo da Prefeitura de Ribeirão Preto na primeira gestão de Palocci, denunciou que a empresa Leão & Leão pagava, entre 2001 e 2002, mesada de R$50 mil ao prefeito de Ribeirão e aos de outras cidades para garantir os contratos de varrição de rua e coleta de lixo.

Polícia Civil de Ribeirão diz ter provas para indiciamento

A Polícia Civil e o Ministério Público de Ribeirão Preto estavam investigando Palocci por suposta corrupção em suas gestões como prefeito da cidade. No fim do ano passado, a polícia dizia já ter provas para indiciá-lo com outros assessores pelo crime de peculato e formação de quadrilha.

Com a evolução da crise, as denúncias foram se sucedendo a cada novo depoimento de Buratti. Assessores de Palocci na Fazenda também foram envolvidos, como Juscelino Dourado, que deixou o cargo de chefe de gabinete depois que foram reveladas suas relações com o advogado. O grupo de colaboradores que acompanha Palocci desde sua primeira gestão como prefeito ganhou o apelido de República de Ribeirão Preto.

Em novembro do ano passado Palocci antecipou um depoimento que daria à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e negou as denúncias, desde a carona no avião do empresário Roberto Colnaghi até a suposta contribuição de Cuba para a campanha de Lula em 2002, passando pelo mensalinho de Ribeirão. Ele criticou o Ministério Público de São Paulo por ter permitido que um procurador deixasse a sala onde Buratti depunha, dias antes, para contar à imprensa detalhes do que o advogado dizia. Afirmou que não levaria Buratti nem jornalistas aos tribunais porque não iria ¿colocar o peso de um ministério sobre jornais e pessoas¿, e que entendia o que Buratti havia feito, mas não aceitava.

Encontros na ¿central de negócios¿ no Lago Sul

Neste ano, em depoimento à CPI dos Bingos, Buratti afirmou que integrantes da República de Ribeirão Preto se reuniam numa casa luxuosa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, que definiu como uma ¿central de negócios¿. Em 26 de janeiro, na CPI dos Bingos, Palocci foi incisivo ao negar que freqüentasse a casa: ¿Não, nenhuma vez. Não estive nenhuma vez¿.

Mas em 8 de março o motorista Francisco das Chagas Costa, que trabalhou para ex-assessores de Palocci, foi à CPI e o contradisse. Dias depois foi a vez do caseiro Francenildo Santos Costa confirmar à CPI o que havia dito numa entrevista: Palocci freqüentou a casa.

Na última sexta-feira, Palocci fez um discurso em tom de desabafo para empresários e banqueiros numa cerimônia na Câmara Americana de Comércio de São Paulo. Disse que a economia vai bem, mas que ele se sentia ¿entre o terceiro e o quarto círculos do Inferno de Dante¿, e admitiu que ele, o governo e o PT cometeram muitos erros.

Ontem, a derradeira denúncia a atingir Palocci também envolveu a Caixa. O então presidente do banco, Jorge Mattoso, disse duas vezes à PF que entregou o extrato do caseiro a Palocci.

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