Título: EX-MINISTRO ESTEVE NO CENTRO DAS TENSÕES INTERNAS DO GOVERNO
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 16

Divergências envolveram pesos-pesados como José Dirceu, Tarso Genro e Dilma Rousseff

SÃO PAULO. O ex-ministro Antonio Palocci foi o protagonista das principais tensões internas do governo Lula. Em janeiro de 2004, as brigas com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, vieram à tona e se espalharam pelo governo e no Partido dos Trabalhadores. Foi uma divergência discreta, mas profunda, entre os dois pólos mais fortes do governo, naquela época.

Foram várias divergências pontuais, que acabaram envolvendo outros pesos-pesados, como Ricardo Berzoini, ex-ministro e presidente do PT; Tarso Genro, ex-ministro e ex-presidente do partido; o ministro Luiz Gushiken; Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais de Lula; e por fim, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

No princípio, o motivo era um pacote de investimentos de R$12 bilhões previstos para obras dentro do orçamento da União. Palocci, ao contrário de Dirceu, queria represar os gastos ao máximo. O ministro da Fazenda queria fazer um superávit primário acima da meta de 4,25% combinada com o FMI.

¿ O PT já fez o dever de casa. Este ano é para crescer. Se o governo não investir, os empresários não terão estímulo para apostar ¿ dizia Dirceu, que procurado ontem, preferiu não se manifestar.

Depois, a posição cautelosa de Palocci foi ganhando evidência, ao defender a manutenção da taxa básica de juros, com redução graduada. Já Dirceu, Berzoini e outros queriam a queda mais acentuada da Selic.

Outra divergência com os ministros e dirigentes petistas foi a questão da autonomia do Banco Central. Palocci queria a autonomia prometida ao FMI. Dirceu também queria a saída do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, proveniente da equipe de Fernando Henrique Cardoso e que até ontem continuava no cargo.

As reclamações contra Palocci soavam como brigas de irmãos para fora do governo. No PT, as críticas mais contundentes à política econômica ficaram por conta da esquerda mais radical. As reclamações se davam nos bastidores ou documentos internos.

Na presidência interina do partido, Tarso Genro chegou a escrever documentos com críticas à política econômica de Palocci. Petistas do porte de Genro defendiam maior descentralização da distribuição de renda, considerando que o governo já tinha equilibrado a economia e reunido condições para melhorar as áreas sociais. Mas Palocci segurou medidas como a ampliação da reforma agrária, tema caro ao PT.

No final, o partido resolveu ajudar o governo a blindar Palocci, considerado principal esteio de Lula. Em novembro, foi a vez de Dilma Rousseff brigar com ele. Ela declarou que a política econômica ¿enxugava gelo¿ porque, se de um lado o governo fazia grande esforço fiscal para reduzir a dívida, do outro gastava dinheiro economizado com o pagamento de juros. (S.A.)