Título: Um ex-Libelu pragmático que incomodava o PT
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 16

Em Ribeirão Preto Palocci fez privatizações e conquistou confiança da cúpula petista, apesar das resistências das bases

SÃO PAULO. O político Antonio Palocci despontou no cenário nacional há apenas quatro anos, quando foi escolhido pelo PT para substituir o prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002, na coordenação da campanha que elegeu o presidente Lula. Nomeado ministro da Fazenda, já em 2003 ganhou ares de âncora do governo, persistindo neste papel até ser derrubado justamente pelo envolvimento com ex-assessores de Ribeirão Preto. Antes disso, porém, chegou a ser citado até como nome forte do PT para disputar a Presidência, ou no lugar de Lula este ano ou em 2010 caso o presidente fosse reeleito.

Palocci já fora cotado inclusive para atuar na coordenação da campanha, possivelmente para a área financeira. Foi considerado um porto seguro em tempos de ruína ética na política.

O político Palocci surgiu no movimento estudantil durante o regime militar e se organizou na antiga Libelu (Liberdade e Luta). Na fundação do PT, ficou na corrente trotskista ¿O Trabalho¿, à esquerda de Lula. Mas em 1992 foi eleito prefeito de Ribeirão Preto pela primeira vez e acabou conhecido no partido pelo pragmatismo frio e distante da ideologia petista.

Palocci rompeu com um dos princípios mais caros ao PT ao privatizar serviços públicos em sua gestão. Como prefeito, ele vendeu, em 1996, 49% das ações da Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto), antes de o presidente Fernando Henrique fazer o mesmo no país.

As experiências administrativas de Palocci foram criticadas até pela Articulação, corrente moderada do partido da qual Lula fazia parte. Eleito novamente prefeito em 2000, Palocci chegou até a escrever uma espécie de ¿guia¿ para os novos prefeitos petistas, o que o fez ganhar mais antipatia interna.

Mas a habilidade para fazer alianças, escolher técnicos e empresários para ajudá-lo na nova administração tornou-se qualidade no PT. Frio, tranqüilo, articulado, o perfil de Palocci ganhou a simpatia da cúpula petista, que procurava preencher o espaço deixado por Daniel.

Palocci nunca perdeu eleição

Palocci mostrou influência em 2002 a partir da contratação do publicitário Duda Mendonça para a campanha de Lula. Duda já tinha feito sua campanha para a prefeitura em 2000, quando o publicitário também trabalhava para o ex-prefeito Paulo Maluf (PP).

Médico sanitarista, trocou a profissão pela política e nunca perdeu uma só eleição. No entanto, Palocci só concluiu um dos mandatos, o de prefeito entre 1996 e 2000. Antes, foi eleito vereador em 1988, com 3.000 votos e o apoio de empresários da cidade. Dois anos depois, foi eleito deputado estadual e, em seguida, prefeito em 1992, com 112 mil votos. Em 1998, foi eleito deputado federal, com 125 mil votos. Em 2000, foi reconduzido à prefeitura de Ribeirão Preto, com um amplo apoio de empresários e usineiros, representados pelo vice, Gilberto Maggioni (PMN na época), presidente da Associação Comercial e Industrial, que se filiou ao PT.

Palocci renunciou ao cargo, embora tivesse registrado em cartório um compromisso com os eleitores de que levaria o segundo mandato até o fim.

Para levar Palocci, Lula foi a Ribeirão Preto e pediu desculpas à população, alegando que precisaria muito de Palocci em sua equipe.

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